Livre-arbítrio

Djalma Filho

História de vida somada à herança genética formam o nosso ser. Nosso arbítrio, por essa razão, não depende apenas da nossa vontade consciente, pois esta não tem vida própria. Ao contrário, via de regra, é apenas uma conseqüência do nosso ser. Nesse passo, gosto de uma cor porque gosto e não porque quero gostar.

 A minha decisão nesse caso, por exemplo, restringe-se a usar ou não roupas dessa cor. Isso porque não nos cabe a construção do ser, mas, apenas, agir ou não agir. E isso não é livre-arbítrio? Em parte, porque o arbítrio está fatalmente atrelado ao que somos, por essa razão jamais será livre. Parece óbvio, mas é um dilema existencial.

Se não decidimos ser como somos, é certo também que não optamos ter as falhas de caráter que por ventura temos. Por isso a ocasião jamais fará o ladrão, porque quando esta aparece, o ladrão já está feito há muito tempo, independentemente da sua condição externa (sócio-econômica). Outras pessoas, mesmo tendo oportunidade (e até mesmo necessidade), são incapazes de apropriarem-se do que não lhes pertence. Em tese ao menos, duas pessoas nunca poderiam ser julgadas pela mesma medida.

Então não temos escolha? Somos meros escravos do determinismo do ser? Fantoches de nós mesmos? Na maioria das vezes, sim. Porém, movido pelo encanto das exceções (obsessão humana), acredito ser possível inverter-se a ordem dessa regra.

Em outras palavras, se o ser precede o agir, por que não agir para obter um novo ser? Prática e fé costumam fazer milagres. Todavia, vale o aviso: é preciso perseverar e vigiar porque o antigo ser, assim como um vício largado, costuma fazer suas visitas justamente nas horas mais vacilantes.

Djalma Filho é advogado – djalma-filho@brturbo.com.br

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