Não é fácil ser otimista num país em que ?dá vergonha de ser honesto?, como dizia Rui Barbosa. A impunidade vem de longe e a política tem sido um ambiente para negociatas, omissões e uso criminoso do dinheiro do povo. Não por todos os políticos, mas por um número bastante expressivo. A impunidade beneficiou os parlamentares indiciados e condenados pela Comissão de Ética da Câmara e alguns deles tiveram a desfaçatez de, às vésperas da possível cassação de seus mandatos, renunciar para voltarem a ser candidatos. Será que o eleitorado vai reeleger essa gente que envergonha o País? Suspeita-se que sim, pois há uma cultura de condescendência, que tende a perdoar aqueles que exploram o povo, mas justificam-se cumprindo, vez ou outra, o que é de sua obrigação. Ou praticam a política do clientelismo, mofando de uma nação carente, que tem gente precisando trocar seu voto por um naco de pão, um subemprego, alguns tostões ou mesmo uma dentadura ou uma cadeira de rodas. Benefícios aparentes concedidos com o uso de dinheiro do próprio povo.
Alentadoras são as opiniões de alguns analistas políticos. Eles consideram que as denúncias de corrupção que atingiram o Congresso deverão ter repercussões nas urnas. Em sua avaliação, a Câmara Federal deverá ter uma grande renovação neste ano. Acreditam que essa oxigenação deverá chegar a 62%, índice próximo do verificado nas eleições de 1990. Essa renovação historicamente vai de 40 a 60%. Os analistas acham que o eleitorado vai tentar limpar a Câmara, fazendo o que os deputados deixaram de fazer quando absolveram onze de seus colegas envolvidos no escândalo do mensalão.
Possível, se bem que não provável, pois mesmo os partidos não vêm cuidando dessa higienização. O PT paulista, por exemplo, já decidiu apresentar como candidatos dois deputados de suas hostes que foram condenados pela Comissão de Ética da Câmara.
Os números otimistas, aqueles que falam em saneamento do Congresso, vêm do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). A entidade comparou suas conclusões com as da consultoria Arko Advice e do cientista político David Fleischer. Este faz, há anos, esse exercício de futurologia. ?Este Congresso vai pagar um preço alto em função da paralisação nas votações, da eleição de Severino Cavalcanti (eleito presidente da Câmara, denunciado por negociatas e que acabou renunciando) e das denúncias do mensalão e sanguessugas. Houve uma série de matérias importantes aprovadas, como as reformas do Judiciário e eleitoral, mas isso ficou em segundo plano por causa da crise?, entende Antonio Augusto de Queiros, diretor do Diap.
Embora desejáveis, achamos essas previsões demasiado otimistas. O próprio Severino Cavalcanti tem grandes chances de voltar ao Congresso. É candidato nas próximas eleições e mesmo depois de ter renunciado ao mandato para não ser cassado, continuou freqüentando Brasília e os gabinetes governamentais. Sem mandato, continuou com os privilégios políticos, trabalhando para se reeleger.
Aliás, as próprias pesquisas demonstram que nas eleições presidenciais, todos os escândalos já viraram história. Ou estórias da carochinha.