Por algum desconforto físico qualquer você procurou um médico. Após alguns exames clínicos surge um diagnóstico e uma prescrição: você precisará fazer um rigoroso regime alimentar, além de utilizar diariamente uma medicação que só pode ser ministrada por meio de injeções intramusculares e, para seu desespero, o tratamento durará seis meses! Realmente é de deixar qualquer um chateado. Mas o mais importante é que sua confiança no médico está embalada, e só essa confiança já o ajuda a enfrentar essa situação difícil.
Agora imagine se ao final da consulta, ao perceber em você alguma dificuldade em enfrentar o tratamento, o médico dissesse que liberava você de parte do tratamento, pois entendia suas limitações e dificuldades, quer fosse para suportar o regime ou as desconfortáveis injeções. Como você se sentiria? Como ficaria sua confiança no médico?
Uso esse exemplo sempre que algum aluno me procura para explicar que ele faltou às aulas mais do que poderia e claro, foi reprovado (salvo algumas exceções, caso não incorra em reprovação o aluno não se preocupa com suas faltas). Em geral, os argumentos e apelos são sempre os mesmos. Apelam para o bom senso (sic), para a flexibilidade que os dias atuais nos impõem, e até para sentimentos mais nobres de bondade e, pasmem, solidariedade.
A comparação pode ser um tanto esdrúxula, mas dá resultado. Em geral o recado é entendido claramente. Mas o que é que se está comunicando nessa situação?
Entre outras coisas, que a parte essencial do que está sendo oferecido ao aluno é a possibilidade dele se ver diante de limites claros e que deverão ser superados. E isso não é apenas algo acessório no processo educacional, como muitas vezes se coloca hoje em dia a questão. Isso faz parte da essência da educação.
Como parte essencial da educação, é parte essencial do que uma escola deve oferecer a seus alunos, com todos os desconfortos que causa.
Como não é tarefa fácil, depende de esforços específicos para superar esse desafio. Esforços do professor e dos gestores das escolas. Do primeiro se espera força interior para que consiga superar os conflitos que nascem naturalmente dessa relação. Dos gestores, a sensibilidade de saber que é necessário oferecer subsídios aos professores, quer seja com regras claras e objetivas da escola quanto a esses limites, quer seja com investimentos em capacitação de professores.
Ricardo Pimentel é consultor de marketing educacional e professor da FAE Business School/UNIFAE e da Faculdade OPET – pimentel.ric@uol.com.br ; http://ricardo.pimentel.zip.net.