Líderes políticos e religiosos de todo o mundo repudiaram o enforcamento de Saddam Hussein e se mostraram divididos neste sábado (30) sobre as conseqüências da execução no caminho da paz ou se aprofundará o conflito no Oriente Médio. Já em Washington, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, considerou que Saddam foi executado "depois de receber um julgamento justo – o tipo de justiça que ele negou às vítimas de seu regime brutal".
"Levar Saddam Hussein à Justiça não porá fim à violência no Iraque, mas trata-se de um importante marco na trajetória do Iraque para tornar-se uma democracia que possa se governar, se sustentar e se defender, e ser um aliado (dos EUA) na guerra contra o terrorismo", afirmou Bush num comunicado.
Na Grã-Bretanha, fiel aliado dos EUA na guerra contra o terrorismo, a secretária do Exterior, Margaret Beckett, disse que Saddam "prestou contas por pelo menos alguns de seus pavorosos crimes contra o povo iraquiano". No entanto, ela condenou o enforcamento do ex-presidente – uma posição assumida por muitos líderes europeus e organizações de defesa dos direitos humanos.
"A União Européia tem uma posição muito consistente (…) se opondo à pena de morte, e ela não deveria ser aplicada também neste caso – apesar de não haver dúvida sobre a culpa de Saddam Hussein em sérias violações dos direitos humanos", frisou o ministro do Exterior Erkki Tuomioja, da Finlândia, que detém a presidência rotativa da União Européia. A Rússia lamentou que foi ignorada a oposição internacional à execução.
"As conseqüências políticas desse passo deveriam ter sido levadas em consideração", considerou o porta-voz do Ministério do Exterior russo, Mikhail Kamynin. "O Iraque está afundado na violência e à beira de um conflito civil em larga escala. A execução de Saddam Hussein pode levar ao agravamento da atmosfera político-militar e aumentar a tensão étnica e religiosa".
O Vaticano também condenou a "trágica" execução. O grupo de direitos humanos Anistia Internacional lamentou que o julgamento de Saddam não tenha sido justo e sujeito à interferência política. "A execução parece ter sido uma conclusão prévia uma vez que o veredicto original foi anunciado, com a Corte de Apelação oferecendo pouco mais do que um verniz de legitimidade para o que foi, na verdade, um processo fundamentalmente viciado".
O governo alemão reconheceu que lidar com os crimes cometidos pelo regime anterior era "uma importante contribuição para a reconciliação e diálogo nacional no Iraque", mas criticou a imposição da pena de morte. Em Paris, o Ministério do Interior simplesmente "tomou nota" da execução de Saddam.
Árabes
Houve pouca reação de líderes árabes, no momento em que os muçulmanos se preparam para o festival Eid al-Adha, um dos dois mais importantes feriados no Islã. A Líbia decretou três dias de luto oficial, e cancelou as celebrações do Eid. Na Cisjordânia e Gaza, a morte de Saddam foi recebida com tristeza, e em Belém foi criada uma "casa de condolências" – decorada com bandeiras iraquianas e fotos de Saddam – para moradores homenagearem o ex-ditador.
No Afeganistão, o presidente Hamid Karzai criticou o momento da execução.
"Desejamos dizer que o Eid é um dia de alegria e reconciliação. Não é um dia de vingança", disse ele a repórteres, ressaltando que a execução foi "obra do governo iraquiano". A África do Sul pediu uma intervenção da ONU no Iraque. "A África do Sul continua convencida de que sua execução não é a panacéia para os atuais problemas políticos no Iraque e pode alimentar a violência numa situação já volátil", afirmou o porta-voz de Assuntos Exteriores, Ronnie Mamoepa.
Fauzan Al Anshori, do grupo militante Majelis Mujahidin Indonésia, disse que Bush, igualmente, deveria ser julgado. "Dados os crimes dos quais Saddam é acusado, seria injusto se George Bush também não fosse levado a um tribunal internacional" opinou. "Saddam foi executado por ter matado 148 pessoas, muçulmanos xiitas, enquanto Bush é responsável pela morte de cerca de 600.000 iraquianos desde a invasão de março de 2003".