O líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), fez, nesta terça-feira, um apelo dramático para que o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), retire o seu nome do relatório parcial, que será apresentado na semana que vem, com o nome de 18 parlamentares envolvidos no suposto esquema do mensalão.
Mabel foi citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos responsáveis pelo pagamento de mesada a parlamentares da base aliada.
Com a voz embargada e lacrimejando, Mabel implorou para que relator tivesse "piedade" dele e chamou Jefferson de "delinqüente". "Estão ralando quem já está ralado. Me ajudem. Tenham piedade de uma pessoa. Queria pedir para ser retirado da lista", disse o líder do PL. "A única citação que tem sobre mim na CPI é do delinqüente do Roberto Jefferson", completou.
Ele garantiu que não vai renunciar a seu mandato e lembrou que já está sendo investigado pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. "Já estou com minha imagem bem atrapalhada. Não tenho que justificar mais nada", observou.
O apelo do líder do PL não surtiu, no entanto, nenhum efeito junto ao relator da CPI. "Não é um processo disciplinar; é um inquérito. Não posso excluir o seu nome", alegou Serraglio. Sem se dar por vencido, Mabel tentou ainda sensibilizar o relator: foi até à mesa da CPI e ficou de cócoras ao lado de Serraglio dando argumentos para que o seu nome seja retirado da lista. "Não sou dono da verdade, mas não tenho nenhuma intenção de voltar atrás", sentenciou o relator.
Nesta segunda-feira, Serraglio enviou ofícios a 18 deputados que tiveram seus nomes mencionados em depoimentos na CPI ou aparecem na lista de sacadores de recursos da conta no Banco Rural do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Os parlamentares têm cinco dias úteis para se explicar, se assim quiserem. "Estou dando oportunidade a todos para esclarecimentos. Não há nenhum pré-julgamento. Os nomes referidos na CPI apenas foram tabulados", disse o relator.
"Foi um apelo totalmente fora de hora e lugar. É coisa de quem está desesperado", resumiu o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), ao comentar o depoimento do líder do PL.
As explicações de Serragalio para manter Mabel na lista não convenceram o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). "Falta uma linha de investigação nesta Comissão e ela está cometendo uma série de equívocos, inclusive essa lista", reclamou Bittar. "O Roberto Jefferson não tem nenhuma credibilidade", emendou. Sete petistas integram a lista de envolvidos no mensalão.
A relação será apresentada na semana que vem pelo relator Osmar Serraglio e votada na CPI, antes de ser enviado à Mesa Diretora da Câmara.
O nome de Mabel apareceu no escândalo do mensalão depois que a deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO), que é secretária de Educação do governo de Goiás, afirmou que o líder do PL lhe ofereceu como "luvas" o valor de R$ 1 milhão para que ela trocasse de partido, além de R$ 30 mil mensais, que poderiam chegar a R$ 50 mil. Com base na afirmação da deputada tucana, foi aberto processo no Conselho de Ética da Câmara. A estratégia de Mabel é desqualificar o testemunho de Raquel.
No depoimento improvisado aos integrantes da CPI dos Correios, o líder do PL aproveitou ainda para fazer um relato de sua vida e de seus negócios. "Uma lista dessas é um desastre na vida de uma pessoa. Não tenho o rabo amarrado com ninguém. Não faço em política negócios", disse Mabel.
"Não posso aceitar que o meu nome figure em uma lista da CPI dos Correios. Que acusação existe contra mim? Que prova tem?", indagou. "Já estou no Conselho de Ética da Câmara. Não quero ficar na lista da CPI dos Correios. Devo uma satisfação a meu pai, a minha mãe, a meus filhos e aos 150 mil eleitores que votaram em mim", afirmou Mabel.