O líder do PPS, deputado Fernando Coruja (SC), disse nesta quinta-feira (22) em entrevista ao programa Bastidores, da TV Câmara, que discorda da manobra efetuada na Comissão de Finanças para reajustar o salário dos deputados. Ele diz que seu partido é favorável ao reajuste, mas não a mudanças na verba indenizatória paga aos deputados.
Coruja disse ainda que seu partido dará apoio ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas não acredita que ele coloque o País no rumo do crescimento. Para o líder, o PAC é apenas um "plano de obras".
Ele foi o quarto líder partidário entrevistado pelo programa, que pretende ouvir todos os líderes para conhecer as propostas dos partidos sobre temas importantes em debate na Câmara.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
TV Câmara: O partido era aliado do presidente Lula em 2003. Deixou a base governista em 2004 e neste ano aliou-se ao PFL e ao PSDB, que são de outra linha ideológica. Esse histórico recente do partido significa mudança nas bandeiras do PPS?
Fernando Coruja: Não. Em 2004 saímos do governo Lula por discordar da política econômica. Somos aliados do PSDB e do PFL agora, mais em uma linha de oposição ao governo Lula do que por uma afinidade ideológica. É evidente que o PPS é um partido de esquerda. Quem mudou um pouco, ou bastante, foi o governo do PT, que passou para uma linha francamente liberal, de apoio ao sistema financeiro, e isso nos afastou desse posicionamento.
TV Câmara: Qual a posição do partido a respeito do Programa de Aceleração do Crescimento?
Fernando Coruja: O PAC é uma tentativa de mudança do governo Lula sobre a questão econômica. Mas ela não mexe nas questões estruturais, na taxa de juros, nos tributos altos e no investimento público baixo. Vamos apoiar o plano, que é mais voltado para fazer obras. Reconhecemos que muitas dessas obras são importantes para o País, e se o governo tem capacidade de fazê-las, vamos procurar dar as condições para isso acontecer. Mas não acreditamos que o PAC seja capaz de colocar o Brasil no rumo. O Brasil, para se desenvolver, precisa mudar a política econômica.
TV Câmara: O partido elegeu 22 deputados e neste momento está com 15. Isso inevitavelmente leva à discussão da reforma política. O que é indispensável para uma boa reforma política?
Fernando Coruja: Precisamos mudar o sistema eleitoral para que as pessoas tenham mais identificação com os partidos. O que há é um processo de cooptação: todo governo coopta deputados. Os nossos acabaram mudando para a base governista. Por isso, precisamos fortalecer os partidos políticos, mas não apenas na fidelidade. É preciso mudar o sistema eleitoral brasileiro. Defendemos também o financiamento público de campanhas, a votação por lista e o voto distrital misto.
TV Câmara: O PPS vai continuar em obstrução nas votações de hoje e da próxima semana?
Fernando Coruja: Não. Vamos parar com essa obstrução sistemática, que tinha uma finalidade específica, a de implantar uma CPI [do Apagão Aéreo]. Nós perdemos aqui na Casa, mas estamos confiantes de que o Supremo Tribunal Federal vai colocar a questão no rumo. Nos parece um direito líquido e certo instalar a CPI porque tem um fato determinado, as assinaturas suficientes, o número de membros imposto pelo Regimento e prazo determinado para terminar. Mas é claro que não vamos votar todas as matérias. Tem aquelas que não concordamos e não queremos votar.
TV Câmara: A Comissão de Finanças e Tributação aprovou hoje um projeto de decreto legislativo reajustando os subsídios dos parlamentares em 26,49%. Qual a posição do PPS a respeito disso?
Fernando Coruja: Achamos que a manobra que foi feita na comissão é inadequada. O projeto estava na pauta, foi retirado, mas acabou sendo votado em uma manobra. Entendemos que não se pode dar urgência a ele, e o projeto só pode ser votado no Plenário depois das medidas provisórias. É claro que reajuste deve ter em algum instante. Mas devemos ter apenas o reajuste salarial, e não tocar em outras coisas como verba indenizatória.
TV Câmara: O PPS tem uma posição firmada sobre o percentual, por exemplo?
Fernando Coruja: Desde o ano passado o partido defende o aumento, sempre pela inflação. O mesmo que é dado para o trabalhador tem que ser dado para os parlamentares. Agora, é preciso ver a hora disso e é preciso ser um debate aberto. Não se pode usar subterfúgios. Na hora de votar, todo mundo se reúne e mostra para a população.
TV Câmara: O PPS vai realizar em julho o seminário Caio Prado Jr, para definir os rumos da esquerda no Brasil. Os partidos estão fazendo campanha para conseguir novos afiliados. O que o PPS tem para oferecer a quem está interessado em participar de um partido político?
Fernando Coruja: Com o seminário, queremos oferecer uma proposta para o País. A idéia é procurar discutir com intelectuais e pessoas de outros partidos o modelo de esquerda para o País. Quando o PT chegou no governo esperava-se que ele fosse mudar as coisas e não mudou. E nós acreditamos que é preciso mudar. A lógica econômica que tem no Brasil só beneficia o sistema financeiro. Queremos achar uma alternativa para o País.