Lições de fora

O mercado consumidor com mais de cem milhões de brasileiros com poder de compra e a disponibilidade de noventa milhões de hectares de terras agricultáveis são atrativos muito fortes que não são levados em conta quando, nos Estados Unidos, medem o risco-Brasil. Por isso o Brasil, na América Latina, é hoje o melhor destino para os euros dos italianos. Palavra de um graduado funcionário do governo italiano que se ocupa de comércio exterior, chamado Massimo Romagnolli, em revoada pelo País.

O ilustre visitante em missão comercial realizou contatos com muitas instituições e empresas brasileiras e suas conclusões tornadas públicas funcionam como um colírio para olhos e ouvidos nossos: disse, por exemplo, que não viu crise alguma por aqui e que esse quadro favorável aos investimentos no Brasil não será alterado sequer pelos resultados da disputa eleitoral, que alguns têm como causa e efeito das turbulências atuais. “O que está sendo levado em conta – afirmou – é que o Brasil tem parâmetros econômicos bem definidos e que serão mantidos.”

As observações otimistas, e que contrastam com a visão norte-americana pré-visita de Paul O’Neill e de alguns brasileiros aqui dentro, foram realizadas no dia em que se anunciava o fechamento de um acordo com o Fundo Monetário Internacional de trinta bilhões de dólares em dinheiro novo e mais dez bilhões de dólares de reservas internacionais do Banco Central – estas últimas destinadas à estratégia de derrubada do valor dólar pelo BC. Maior parte dos recursos previstos pelo novo acordo (80%) será liberada somente no ano que vem, já com novo governo instalado. Por isso, num comunicado conjunto, o Ministério da Fazenda e o FMI manifestaram que “as autoridades brasileiras estão convencidas de que esse acordo serve aos interesses do País e confiam que ele contará com o apoio dos principais candidatos à eleição presidencial”.

Acordo feito, o sucesso de sua eficácia está condicionada, segundo especialistas, ao que disserem os candidatos. Se os candidatos disserem coisas certas, “ajudarão a acalmar o mercado”; se usarem o anúncio do acordo para criticar o governo “colocarão tudo a perder”, disse um deles. E completou: “É essencial que os candidatos digam que o acordo é construtivo e que eles apóiam os esforços do atual governo”.

Apesar das advertências, Lula foi o primeiro a consignar seu entendimento de que o novo acordo engessa o próximo governo, limitando, no dizer de seu economista preferido, Guido Mantega, “a capacidade de investimentos sociais que pretendemos fazer”. Ciro Gomes, com ares de pitonisa, jura que “seria o último a atrapalhar o esforço dos negociadores brasileiros”. Mas objetivamente não apoiou nem desapoiou. Serra manifestou desconhecimento do que acontecera, mas prometeu um apoio “de forma criteriosa”. Ora, assim fica difícil para brasileiros e brasileiras – dos que trabalham de sol a sol aos que especulam também nas trevas – entender o que querem de fato os candidatos e o que pretendem fazer pelo Brasil de ricos e de pobres.

Tem mais valor a observação de ilustres estrangeiros, como Romagnolli, que estão preocupados não com os humores do mercado, mas com as reais condições de trabalho, produção e consumo deste imenso Brasil continental.

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