Até agora, as investigações sobre o caos aéreo prolongam-se tanto quanto o problema que deveria ser foco de suas atenções. As reuniões realizadas por gente do governo, a mando de Lula ou do ministro da Defesa, Waldir Pires, só resultaram na tentativa de soluções parciais. Remendos para um problema que vem se prolongando desde a queda do jato da Gol, que matou 156 pessoas, no maior desastre da aviação brasileira.
O essencial não é o encontro de culpados, embora tal seja importante se culpados existirem. O que se faz necessário é verificar em que condições se desenvolve o tráfego nos céus do Brasil, quais os riscos e que medidas devem ser tomadas para que se torne seguro e os passageiros não tenham de mandar rezar missa antes de se dirigir ao purgatório de um aeroporto.
A oposição continua tentando um debate aberto do problema através de uma comissão parlamentar de inquérito, vetada pelas forças do governo. Inconformada, entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF). A liminar foi-lhe amplamente favorável, com a conclusão de que a CPI pode e deve ser instalada. Mas ficou para as calendas, quem sabe para o fim deste mês, dependendo da vontade do presidente da Câmara, o petista Armando Chinaglia. Esta autoridade diz que aguarda a deliberação do plenário do STF para tomar a providência.
Até aqui, o assunto só é objeto de um inquérito policial militar para instruir a Procuradoria de Justiça da Aeronáutica, que investiga crimes contra a hierarquia militar praticados pelos controladores de vôo, quando proclamaram greve. É importante, mas não esclarece a opinião pública.
Para esclarecê-la, insiste em nome da oposição o deputado Fernando Gabeira. O deputado verde decidiu levar o caso do caos aéreo à Comissão de Defesa da Câmara, da qual é membro, mas que é dominada por governistas. ?Contive a utilização da Comissão de Defesa o quanto pude, mas acho que já esperamos demais. É preciso conscientizar o governo da gravidade do tema. A pressão internacional e o debate na Comissão de Defesa são as opções que restaram?, afirma Gabeira. Os primeiros efeitos dessa manobra do deputado fluminense serão sentidos nesta quarta-feira, quando a comissão vai ouvir, em reunião reservada, representantes de entidades que representam os controladores de vôo civis e militares. Eles foram convidados por Gabeira com a concordância do deputado Vieira da Cunha, do PDT da ala situacionista.
A oitiva a portas fechadas será dos presidentes da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, Wellington Rodrigues, e do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção de Vôo, Jorge Botelho. O primeiro falará da parte dos militares e o segundo, dos civis. Todos os deputados que integram a Comissão de Defesa poderão assistir às audiências. Nesta mesma quarta-feira, os deputados vão ouvir, em audiência pública, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o desconhecido e inexpressivo Milton Zuanazzi. Os oposicionistas entendem que a Anac vem tendo uma atuação sofrível na gerência da crise aérea. E concluem que, enquanto a CPI não vem, a Comissão de Defesa é o melhor lugar para dar início ao debate da crise. Nada será resolvido, mas muito poderá ser esclarecido. É o que querem os controladores de vôo, que nela encontram uma brecha para expor a sua versão da crise. Não querem ser crucificados como responsáveis exclusivos pelo caos aéreo. Além de suas reivindicações salariais, insistem que outros aspectos do problema vêm sendo negligenciados. Assim, alarga-se o círculo de quem passa a saber alguma coisa. Por fim, talvez até os passageiros sejam informados.