O conservadorismo era a principal característica de Karol Josef Wojtyla, o papa João Paulo II, na opinião do teólogo Leonardo Boff. Em entrevista à Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Boff disse que, sob esse escudo, o papa "permitiu que surgissem cristãos conservadores e movimentos que não têm muita sensibilidade com o social".
Durante o pontificado de João Paulo II, de acordo com Boff, a Igreja não se modificou internamente e não permitiu inovações dos integrantes. Para o papa, a defesa de atitudes conservadoras manteria a Igreja mais unida, numa ética mais rígida. "Na subjetividade do papa, isso devia funcionar da seguinte forma: quanto mais unida e coesa internamente, mais forte ela é para atuar fora", afirma Boff.
O teólogo, autor de mais de 30 livros, diz que movimentos da direita católica, que hoje seriam a base forte da Igreja, desenvolveram uma espécie de "papismo", cultuando a imagem do papa sem articular religião com política. "Movimentos como Opus Dei e Legionários de Cristo são profundamente caracterizados pelo elemento religioso sem articulá-lo com o elemento político, isto é, não une religião com justiça ou cristianismo com mudança na perspectiva de melhoria do mundo. Eles se bastam quase que numa orgia religiosa, na louvação, nas cantorias, no cultivo do sagrado."
Boff lembra ainda que João Paulo II ajudou a "derrubar um dos maiores sistemas políticos mundiais: o soviético". No final dos anos 80, o papa contribuiu para precipitar o "colapso do império soviético", que implodiu por causa de contradições econômicas e sociais. Segundo ele, o papa teve tanta importância, que o próprio Mikhail Gorbatchev reconheceu publicamente, anos depois do fim do regime, que "sem João Paulo II, possivelmente tudo teria sido mais lento".
O teólogo defende que o futuro pontífice encontre nova articulação e equilíbrio, "porque as demandas da humanidade são muito profundas e o cristianismo, junto com as demais religiões, pode colaborar significativamente no sentido de dar solidariedade e humanismo às relações mundiais".
João Paulo II foi internado no dia 31 de março e morreu dois dias depois, por comprometimento das funções renais e cardiorespiratórias. Karol Josef Wojtyla tinha 84 e completaria 27 anos de pontificado em outubro deste ano.