A Instrução Normativa (IN) 51, que estabelece novos padrões para a qualidade do leite comercializado no País, deve aumentar a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. A opinião é da engenheira agrônoma do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep) e assessora da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite, Maria Sílvia C. Digiovani. Para ela, a IN 51, que entrou em vigor no dia 1.º de julho em grande parte dos estados – incluindo o Paraná -, vem contribuir para o setor não só por melhorar a qualidade do leite, mas por exigir do produtor maior cuidado quanto à sanidade do rebanho.
?A Instrução Normativa 51 é uma espécie de carteira de identidade. Até então, não tinha como dizer ao mercado externo quais eram os padrões de qualidade do leite brasileiro?, apontou Maria Sílvia. Entre as principais mudanças, a engenheira agrônoma destaca a extinção da denominação leite ?tipo C? e a adoção do termo ?leite pasteurizado?. ?A diferença é que a matéria-prima do leite ?tipo C? podia ser transportada em latões. Agora, tem que ser refrigerada na propriedade?, explicou. Além disso, o transporte do leite precisa ser feito em carreta que mantém o produto refrigerado.
A mudança, segundo Maria Sílvia, é capaz de melhorar a qualidade do leite que chega à indústria. ?Quanto mais tempo o leite passa em temperatura alta, maior a contaminação, o número de bactérias, e o produto chega à indústria com qualidade não tão boa?, comentou. ?Já quando resfria, são mantidas as condições ótimas do leite.?
De acordo com a engenheira agrônoma, cerca de 80% da produção leiteira do Paraná já atende à Instrução Normativa 51. Apesar disso, lembrou, as novas normas são alvo de críticas de produtores de leite, especialmente os pequenos. ?Tem gente que é contra a Instrução Normativa, dizendo que vai ser excluído. Mas mesmo os pequenos produtores, de agricultura familiar, têm uma saída: comprar, via associação, um resfriador coletivo?, sugeriu. Outra alternativa para quem não tem o equipamento, e que inclusive consta na IN 51, é entregar o leite em latão à indústria até duas horas depois da coleta, ?desde que a indústria aceite?, observou Maria Sílvia.
Baixa produtividade
Em nível nacional, a produção leiteira é de 22 bilhões de litros por ano. O Paraná ocupa a quarta posição no ranking brasileiro, com produção de cerca de 2 bilhões de litros por ano, atrás de Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul.
Apesar do grande volume, a produtividade é baixa se comparada a outros países, comentou Maria Sílvia. No Brasil, segundo ela, a produção média é de 1,2 mil litros de leite por vaca ao ano – abaixo dos 3 mil litros obtidos na Argentina e bem aquém dos 7 mil litros dos Estados Unidos. ?Esses números dão uma idéia de quanto é possível aumentar a produtividade do leite no Brasil.?
O problema, observou a engenheira agrônoma, é a falta de gerenciamento da propriedade e do rebanho. ?O Paraná é uma ilha de produtividade, com Castro, por exemplo, produzindo cerca de 4,8 mil litros de leite por vaca ao ano. Mas em Minas Gerais e na Bahia, a exploração é extensiva, com o gado criado no pasto, sem complemento de ração?, explicou. ?Uma pastagem pobre não tem condição de melhorar a produtividade da vaca.? A engenheira agrônoma lembrou, porém, que para aumentar a produtividade é preciso ter para quem vender (leia box).
No Paraná, embora o dado oficial aponte a existência de cerca de 35 mil produtores de leite, Maria Sílvia aposta em aproximadamente 50 mil – a maioria deles pequenos produtores, de agricultura familiar. A produtividade de leite no Estado está um pouco acima da média nacional: cerca de 1,8 mil litros por ano por vaca, contra 1,2 mil litros na média brasileira.
Exportação é o caminho natural para o setor
Para a engenheira agrônoma da Faep, Maria Sílvia Digiovani, ?o mercado externo é o caminho natural para o nosso leite.? ?Nosso mercado interno está estagnado. O consumo brasileiro é de cerca de 130 litros per capita ao ano, abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 180 litros por habitante ao ano?, apontou. Nesse dado, lembrou, é contabilizado o consumo não só do leite puro, mas de lácteos como queijo e iogurte.
Para ela, o baixo consumo está atrelado tanto ao baixo poder aquisitivo como à falta de percepção do valor nutritivo do leite. ?O consumo de refrigerantes, chás e sucos está crescendo ano a ano, enquanto o do leite está parado.?
Mercado externo
A participação do leite brasileiro no mercado internacional é recente e ainda pequeno. Conforme dados da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), entre janeiro e junho, o Brasil exportou o equivalente a 32,7 mil toneladas de lácteos, o que gerou receita de R$ 50,7 milhões – valor 71% maior do que os US$ 29,6 milhões em remessas de lácteos no mesmo período do ano passado. ?Há cerca de dois ou três anos foi que abrimos para o mercado externo. Ainda é uma quantia pequena, mas o importante é que estamos ganhando espaço?, arrematou. (LS)
