O presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), brigadeiro José Carlos Pereira, afirmou que considera a confirmação da venda da Varig para a VarigLog – em leilão realizado hoje pela manhã – a melhor solução para os credores da companhia. "Essa situação melhora muito a nossa perspectiva como credores da Varig", disse o brigadeiro à Agência Estado.
"Ainda não posso dizer que se encerrou a novela, mas posso afirmar que se chegou ao penúltimo capítulo", comentou. O presidente da estatal calcula que os donos da Varig operacional, vendida hoje, tenham prazo de 50 a 60 dias para começar a negociar com credores o pagamento das dívidas acumuladas desde junho do ano passado, mês em que a companhia entrou no processo de recuperação judicial pelas regras da nova legislação.
O brigadeiro disse esperar que esse período de até dois meses seja o mínimo necessário para que haja a efetiva homologação da operação. O resultado do leilão ainda precisa ser homologado pela Justiça do Rio de Janeiro e, depois disso, pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A Varig deve à Infraero cerca de R$ 600 milhões em tarifas aeroportuárias.
A parcela desse débito acumulada antes de a empresa entrar em recuperação judicial, em junho de 2005, está "congelada" e faz parte da dívida global de quase R$ 8 bilhões que ficará sob responsabilidade da "velha Varig", que continua em regime de recuperação. De junho de 2005 para cá, chegou a um total de cerca de R$ 260 milhões, que é a parte que deverá começar a ser paga após a homologação.
Aviões
O consultor Paulo Bittencourt Sampaio avalia que a Varig está operando hoje com 16 aviões apenas, embora tenha 61 no total. Segundo ele, a empresa tinha na semana passada 4,9% de participação no mercado nacional, metade do que dispunha em junho. De acordo com o consultor André Castellini, da Bain & Company, na atual situação a companhia está atraindo passageiros "sensíveis a preço", competindo mais diretamente com a BRA do que com a Gol. Ele acredita que a Varig deve continuar a manter o foco apenas em linhas muito rentáveis, como a ponte aérea Rio-São Paulo ou rotas de grande demanda, como São Paulo-Brasília.
No mais, os consultores apostam que os novos administradores tentarão manter as operações internacionais de longo curso, um mercado no qual a marca Varig sempre se mostrou forte. Há, no entanto, muitas incertezas no ar. O próximo Dia D da companhia será amanhã, quando haverá nova audiência na Corte de Falências de Nova York para decidir se as empresas de leasing internacionais retomarão as aeronaves da companhia, ou se haverá novo prazo. A decisão deve ser divulgada por volta das 13 horas (horário de Brasília).
"É importante lembrar que a Varig que chega amanhã para a audiência não é mais uma empresa em recuperação judicial; é uma companhia com novos investidores", afirma Sampaio. De acordo com ele, se a VarigLog conseguir, mais uma vez, o adiamento do arresto, será uma " vitória extraordinária". Nesse caso, os novos administradores terão mais fôlego para reestruturar as operações da companhia aérea, que já foi líder absoluta do setor. Segundo o consultor, o plano inicial da VarigLog é manter a Varig voando com 13 aviões e aproximadamente 1.500 empregados. Mas, se a empresa conseguir segurar as aeronaves no Brasil, a retomada do crescimento pode voltar a ocorrer e uma quantidade bem maior dos 10 mil funcionários poderá ser aproveitada.