2003 tem sido um ano de superação para o agronegócio brasileiro. Somos líderes na exportação de carne bovina, segundo colocado em vendas externas de carne de frangos, demos um salto fantástico em suinocultura, a produção leiteira ganha mais qualidade, a população de pequenos animais cresce, a criação de eqüinos se consolida. Tudo isso com o respaldo de números fantásticos, como o do superávit comercial do campo, que deve superar US$ 24 bilhões, um recorde impensável há alguns anos. Não bastassem esses resultados consideráveis na produção animal, há o desempenho extraordinário da soja, do algodão, do açúcar e do álcool, do café, do milho, do trigo
Porém, para aproveitarmos as oportunidades já existentes, manter os parceiros atuais e conquistar cada vez mais clientes externos precisamos ficar atentos às exigências dos nossos clientes.
No início do segundo semestre, uma missão técnica norte-americana esteve no Brasil para avançar o processo de análise de risco do nosso rebanho bovino contra esta terrível enfermidade. Na ocasião, os casos de febre aftosa na Bolívia, Paraguai e Venezuela preocuparam os americanos que chegaram a recomendar ao governo brasileiro reforço na vigilância nas fronteiras, mas ficaram satisfeitos com o sistema de defesa animal do País, após rígida vistoria de frigoríficos, postos de vigilância de fronteira e unidades de atenção veterinária no Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rondônia, confirmando o esforço conjunto do governo federal, pecuaristas e indústria no trabalho efetivo de erradicação da febre aftosa.
Um fator que impressionou os norte-americanos foi o aumento da demanda de vacinas contra a doença. E é verdade. Até maio, mês fundamental para a campanha oficial contra febre aftosa, os pecuaristas adquiriram 163 milhões de doses. Já na segunda fase da campanha, foram comercializadas 68 mihlões de doses em um único mês. Nesse ritmo, 2003 fechará com novo recorde de consumo de vacina, que foi de 325 milhões/doses no ano passado. Isso é perfeitamente possível porque o Brasil conta atualmente com o maior parque industrial para fabricação do produto no mundo, com capacidade instalada superior a 500 milhões de doses/ano.
O resultado positivo da missão norte-americana leva o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a avaliar que o Brasil possa exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos a partir do primeiro semestre de 2004, com volumes entre 20 mil e 60 mil toneladas anuais. É pouco, mas é um começo.
Se os entraves sanitários estão sendo vencidos, é preciso ressaltar que a entrada da carne brasileira no mercado norte-americano pode não ser tão rápida nem tão fácil, pois novos obstáculos aparecem no horizonte.
O Congresso dos Estados Unidos aprovou recentemente lei conhecida como “Bioterorism Act”, que obrigará, a partir de 12 de dezembro próximo, os exportadores de produtos alimentícios e farmacêuticos de todo mundo a manter rigorosa fiscalização sobre suas mercadorias. A preocupação dos norte-americanos com novos atentados com armas químicas e biológicas seria responsável pela lei que vai determinar, por exemplo, que os exportadores informem a composição e a origem de todos os componentes usados para a fabricação dos produtos.
Nesse caso, portanto, a rastreabilidade e a certificação de origem do rebanho bovino brasileiro, que tem sido alvo de constantes discussões, não servirá apenas para atender ao exigente mercado europeu, mas também para garantir o acesso da carne brasileira nos Estados Unidos e ainda em mercados igualmente exigentes, como o Japão. Em outras palavras, se quer ganhar ainda mais espaço no comércio internacional de carne bovina, o Brasil precisa estar preparado para atender às exigências dos grandes clientes, cada vez mais rígidas.
Emílio Carlos Salani é presidente do Conselho de Administração do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan)
