Laudo de fraude em Rondônia revela funcionamento do esquema

Laudos periciais concluídos esta semana pela Polícia Federal revelam que não havia limites na imaginação da quadrilha que desviava recursos públicos em Rondônia, desbaratada há duas semanas pela Operação Dominó. A reforma do prédio da Assembléia Legislativa do Estado, por exemplo, foi licitada, contratada, executada e paga num só dia

As investigações comprovaram que a obra, de R$ 149 mil (com superfaturamento de cerca de 100% embutido), foi executada sem licitação. Só depois de paga, em 2005, foi forjada concorrência para justificar o gasto. "Coisas do arco da velha ocorreram aqui. A ficção não faria melhor", sintetizou o superintendente da PF, delegado Joaquim Mesquita

O Ministério Público denunciou ontem os primeiros cinco integrantes da quadrilha, que será processada por um desvio de pelo menos R$ 70 milhões. Entre eles estão o presidente da Assembléia Legislativa, deputado José Carlos de Oliveira (PSL), o Carlão, o presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia, desembargador Sebastião Teixeira Chaves, e o ex-procurador-geral de Justiça, José Carlos Vitachi. Outros 70 suspeitos são investigados, entre os quais juízes, procuradores, desembargadores, secretários de Estado e 23 dos 24 deputados estaduais

Conforme apurou a PF, Moisés de Oliveira (irmão de Carlão) e Haroldo Augusto (filho do deputado Haroldo Santos, do PTB) buscavam no Departamento Financeiro os cheques relativos ao pagamento de fornecedores e efetuavam o saque do dinheiro na boca do caixa em agências do Unibanco e do Banco Rural de Porto Velho. "Era um engenhoso sistema montado para lesar os cofres públicos", disse o delegado Hugo de Barros, encarregado do inquérito

Interrogada, a diretora financeira da Assembléia, Terezinha Marsaro, confirmou que Moisés, então assessor parlamentar no gabinete de Carlão, comparecia pessoalmente no seu departamento com relações de nomes das empresas e os valores a serem pagos. Os cheques eram entregues a ele em mãos. Ela disse que o procedimento era irregular, mas alegou que foi diversas vezes ameaçada por Carlão e Moisés

Moisés levava os cheques assinados por Terezinha a Carlão, devolvendo a via carbonizada para o Departamento Financeiro. Após o saque, Moisés fazia a partilha, destinando a fatia do leão para a quadrilha e apenas uma pequena parte para os fornecedores

Segundo a diretora, estavam envolvidas no esquema as empresas Capri (consultoria), Audiovideosistem, Ajucel, Aquarius Locadora de Veículos, 3Milenium Publicidade, Fox, Fernandes Salame, Rondoformis e Tropical Táxi Aéreo. Ela disse também que as fraudes já existiam, mas o esquema se intensificou após a eleição de Carlão, em 2003. O depoimento de Terezinha foi considerado decisivo para o desmonte da quadrilha.

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