Lançamento da candidatura de Lula marca festa do PT

Sob impacto da maior crise de sua história e com a antiga cúpula dizimada pelo escândalo do "mensalão", o PT completa amanhã (10) 26 anos sem fazer um acerto interno de contas, mas, mesmo assim, empenhado em dar "a volta por cima" para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira manifestação nesse sentido acontecerá segunda-feira, quando o partido fará o lançamento informal da candidatura Lula numa festa para celebrar o seu aniversário e espantar a crise.

Tudo foi planejado nos mínimos detalhes: Lula será aclamado por cerca de mil petistas no jantar previsto para o dia 13 – número do PT -, na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), em Brasília. Será uma catarse paga, com ingressos que vão de R$ 200 a R$ 5 mil. Diante de um cardápio de camarões aromáticos com côco e açafrão e medalhões de filé ao molho de mostarda e damascos, os companheiros de Lula – incluindo ministros e até empresários simpáticos ao partido – iniciarão ali uma espécie de movimento "queremista", como o que se alastrou pelo País em 1945 para defender a permanência de Getúlio Vargas no poder.

O coro promete entoar o indefectível refrão "1,2,3, Lula outra vez". "É o momento de reencontro do presidente Lula com o PT, após a crise", resume o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, sucessor de Delúbio Soares – único expulso pelo partido depois de escancarado o caixa 2 nas campanhas petistas. "Passado o histerismo denuncista, que quis transformar o PT no único patinho feio da história, vamos dizer ao presidente que a reeleição dele é fundamental para o Brasil."

Sem pressa

Lula continua repetindo que não tem pressa para decidir, mas este é apenas o discurso oficial: candidatíssimo, ele está muito animado com a sua recuperação, revelada nas pesquisas, e sonda nomes para montar o comando da campanha. É nesse clima que o PT promoverá a pajelança de segunda-feira.

Sem o deputado José Dirceu – ex-chefe da Casa Civil que foi cassado em novembro pela Câmara – e sem José Genoino, obrigado a renunciar à presidência do PT em meio à crise -, Lula já conversou com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre a possibilidade de ele coordenar a campanha da reeleição.

Não bateu o martelo porque ainda avalia a conveniência dessa operação, já que Palocci teria de deixar a Fazenda. Além disso, o Planalto tem feito consultas para verificar se, nesse caso, as denúncias contra o ministro não seriam "exportadas" para o comitê de Lula.

Na prática, o desenlace da crise no PT está intimamente ligado à conquista de um segundo mandato para o presidente. "Temos uma tarefa fundamental agora para recuperar o PT e garantir o resgate da imagem do partido: reeleger Lula", afirma Paulo Frateschi, que comanda o PT paulista.

"Seria infantilidade fazer agora uma caça às bruxas e gastar energia com um processo interno por causa de caixa 2, um problema que não é de hoje e nem começou com o PT", concorda o deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente do partido. "Se o Conselho de Ética e as CPIs não conseguiram apurar, não seremos nós que demonizaremos cinco deputados flagrados fazendo algo que como disse Jutahy Júnior (PSDB-BA), não deve ser motivo para cassação", completa, numa referência aos cinco parlamentares do PT que enfrentam o corredor da morte na Câmara.

?Edifício político? – Para Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais, 2006 é o ano de impedir o PSDB de voltar ao poder, e não de fazer um ajuste de contas. Da facção Articulação de Esquerda, Pomar observa, porém, que o PT precisa fazer a crítica teórica e prática do "edifício político" montado por José Dirceu, se quiser sobreviver.

"A crise desse modelo de partido vem de 1995, quando Dirceu assumiu a presidência do PT e adotou uma linha política de abandono do socialismo, pragmatismo nas alianças como atalho para chegar ao poder e rebaixamento ideológico", argumenta Pomar.

As maiores divergências estão nas alianças eleitorais e na política econômica. "Se depender de mim, não faremos coligação com o PTB, que não passa de um balcão de negócios", diz o secretário-geral do PT, Raul Pont, da Democracia Socialista, sem esconder o ódio da legenda que abriga o ex-deputado Roberto Jefferson.

Se depender de Lula, no entanto, quanto mais alianças, melhor. Três anos de governo e um Jefferson no meio do caminho não abalaram a convicção do presidente, que está disposto, agora, a enquadrar o PT. Mesmo que, para isso, o partido tenha de sangrar.

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