Paulo José da Silva tem 23 anos e trabalha como vigilante. Ele chega a ficar seis horas conectado à internet. Ontem, às 23h30, conversava pelo MSN Messenger e ouvia música. Paulo não tem computador e acessa a rede numa lan house, em Jordanópolis, bairro de periferia da zona sul de São Paulo. ?Venho aqui todo dia, duas ou três vezes por dia?, disse ele. ?A primeira coisa que eu faço quando chego do trabalho é vir para cá.
Os centros pagos de acesso público, como as lan houses, são o principal local de uso da internet para as classes C, D e E, segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Os centros pagos são usados por 48,1% dos internautas das classes D e E. A pesquisa mostrou que, para quem tem renda familiar mensal de até R$ 1 mil, os centros pagos são o local de acesso mais usado.
Pelo menos nas grandes cidades, a inclusão digital da população de menor renda é feita, na realidade, pelas lan houses. A iniciativa privada, que cobra entre R$ 1 e R$ 2 por hora de uso, se mostra muito mais eficiente que o poder público, com programas de telecentros e acesso gratuito. A pesquisa do Comitê Gestor mostrou que somente 6,4% dos internautas das classes D e E recorrem aos centros gratuitos. Na classe C, o índice é menor ainda, de 4,13%.
Na periferia, o acesso à internet está sendo garantido por empreendedores como Paul Schöning, de 41 anos, dono da lan house Street Games, freqüentada por Paulo José da Silva. É um negócio de margens pequenas, com demanda em forte expansão. Schöning está expandindo a lan house, para passar de 28 para 45 computadores. Há dois anos no local, e quatro no mercado, a concorrência é cada vez maior. ?Desde setembro, abriram mais três lan houses por aqui, num raio de menos de 100 metros. Eu deveria ter ampliado antes.
A Street Games cobrava R$ 1,50 por hora de uso, e teve de baixar para R$ 1, preço cobrado pelos novos concorrentes. ?O ideal seriam R$ 2, mas R$ 1,50 é bom?, disse Schöning. ?Com R$ 1, eu praticamente empato receita e despesa.? Para manter os custos baixos, ele mesmo monta e dá manutenção nos seus computadores e na sua rede, com ajuda de seu pai, que também se chama Paul Schöning. Até a bancada de madeira, onde ficam os computadores, foi construída por eles. A lan house tem três funcionários, registrados, e conta com um investimento de mais de R$ 20 mil em licenças de software.
Parte dos computadores é dedicada a jogos em rede e parte ao acesso à internet. Paulo José da Silva está interessado em acesso, que ele usa para se comunicar, se informar, se divertir e até encontrar trabalho. ?Descobri a vaga no trabalho onde estou hoje pela internet?, disse Paulo, que está no emprego há três meses. ?Enviei muitos currículos.? Ele planeja comprar computador, assim que pagar algumas dívidas. Mesmo assim, continuará freqüentando a lan house. ?Tenho muitos amigos que vêm aqui. Viria menos, mas não deixaria os amigos.
Na favela de Heliópolis, a demanda por tecnologia também é grande. Os amigos Pedro Luís Campos, de 22 anos, e Carlos Alexandre Santos, de 25 anos, montaram uma lan house com 12 computadores no mês passado. Os dois trabalham como técnicos de informática em outras empresas, e se revezam no comando da lan house. ?Sempre quis ter meu negócio, mas sozinho não tinha condições. Conversando com o Carlos, resolvemos ficar sócios?, disse Pedro
Ele contou que, apesar de existirem pelo menos mais 10 lan houses em Heliópolis, existe espaço: ?Às vezes tem gente esperando na porta quando abrimos, às 10h?. A idéia dos dois era fechar a lan house às 22h, mas normalmente ficam até depois da meia-noite. Cada hora de uso custa R$ 2. ?A molecada não tem muita opção de divertimento por aqui.
Michelle Lanice, de 20 anos, chega a ficar cinco horas na lan house, em Heliópolis. Ela preenchia planilhas de planejamento doméstico na semana passada e conversava pelo MSN Messenger. ?Aprendi a usar sozinha, faz uns 3 ou 4 meses?, disse Michelle. ?Tudo ficou mais fácil com o computador.