O diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, reiterou nesta quarta-feira (22) seu chamado para que os integrantes da organização renovem seu comprometimento político com a conclusão da Rodada Doha. Durante cerimônia de celebração dos 20 anos da Rodada Uruguai (1986 a 1994), Lamy acentuou que ainda resta uma restrita janela de oportunidades para a retomada das negociações suspensas em julho passado por causa dos impasses do capítulo agrícola. Essa janela, de acordo com o diretor da OMC, foi aberta pelas eleições parlamentares nos Estados Unidos, no dia 7 e se estenderão até a primavera do Hemisfério Norte.
"Será muito importante valer-se desse estrito período de tempo para aproveitar o máximo possível para preencher os pontos pendentes em diferentes temas em aberto", afirmou Lamy. "O espírito requerido neste momento é o de superar preconceitos e desmobilizar-se ao exterior para criar as condições para um novo mais aberto e reforçado sistema multilateral do comércio por meio do êxito da conclusão da Rodada Doha", disse.
Em sua exposição, Lamy acentuou que a Rodada Doha nunca foi um objetivo fácil, dado o seu nível inigualável de ambição, mas reiterou que as dificuldades são conhecidas e que a suspensão das negociações, em julho, se deveu a um impasse sobre temas que todos os membros conhecem bem. Ele ressaltou, entretanto, que a suspensão não significou "um vazio de negociação". Lembrou que, nos últimos meses, houve intensos contatos, em diferentes níveis em um trabalho de diplomacia silenciosa. Ressaltou também que, na semana passada, surgiram sinais políticos de flexibilidade durante a cúpula da Apec (Cooperação Econômica do Pacífico), o que possibilitou a retomada das negociações por grupos técnicos da Rodada Doha, em Genebra, no último dia 16.
Lamy, entretanto, deixou claro que ainda não há condições para que seja agendado um novo encontro ministerial da OMC para retomar as negociações no mais alto nível.
Estabilidade
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o fracasso das negociações da Rodada Doha não é uma opção, porque traria sérios impactos para a segurança e a estabilidade mundiais, além do próprio prejuízo na área comercial. Outra grave conseqüência, disse ele, seria a perda da importância da OMC na credibilidade do multilateralismo.
"Os tratados de livre comércio não são substitutos para a Rodada Doha, porque, neles, o peso dos países mais fortes se faz mais presente. Na OMC, há possibilidade de um acordo mais equilibrado", afirmou Amorim.
Um dos fatores que trazem mais equilíbrio às negociações da Rodada Doha, segundo Amorim, é a ação do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia e que atua em favor da eliminação dos subsídios à exportação, da redução das subvenções à produção agrícola e da maior liberalização do mercado agrícola. Para o chanceler brasileiro, na comparação com a Rodada Uruguai, houve um avanço significativo no processo de tomada de decisões na Rodada Doha por causa da participação mais ativa dos países em desenvolvimento.
"O G-20 é, hoje, um interlocutor essencial no contexto da Rodada Doha", afirmou Amorim. E justamente por essa razão, Amorim conclamou os países mais pobres, especialmente os da África, e os do G-20, a manterem a sua unidade nas negociações. Também conclamou as economias mais ricas a demonstrarem "sua liderança" – forma diplomática para pedir que apresentem propostas melhoradas para o capítulo agrícola – e a não permitirem "que interesses mesquinhos se interponham no caminho.
