A missão de impedir o fracasso da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) pesa sobre as costas de um experiente negociador, o francês Pascal Lamy, que conta com apenas 28 dias para dissolver o impasse entre Estados Unidos e União Européia (UE) sobre os subsídios e a proteção à produção agrícola. Lamy começa nesta manhã sua corrida contra o relógio com uma reunião de gabinete voltada para a alteração completa de sua agenda deste mês
Amanhã, desembarcará no Japão, um país com poder suficiente para atravancar a Rodada Doha, mesmo se americanos e europeus entrarem em sintonia. Esse primeiro passo, a visita oficial a Tóquio, mostra que seus movimentos serão calculados milimetricamente. O Japão é um dos principais membros do G-10, o grupo de economias desenvolvidas que resistem a qualquer abertura ou redução de subsídios na área agrícola
Atleta amador que se prepara a cada ano para a Maratona de Nova York, Lamy provavelmente terá de deixar de lado seus treinamentos intensivos nas quintas-feiras, das 12 horas às 16 horas, para cumprir sua missão
Afinal, o que está em jogo, neste mês, é o enterro da Rodada Doha, indicado pelo fracasso das negociações dos pré-acordos dos capítulos agrícola e industrial, na noite de sexta-feira da semana passada. No sábado, Lamy foi claro ao assinalar que a negociação mergulhou em uma ?crise?. Mas acrescentou que ainda não há ?pânico?
A esperança deixada ao final dos encontros de Genebra está na disposição dos principais países e agrupamentos da OMC de continuar a negociação. A representante dos EUA para o Comércio, embaixadora Susan Schwab, frisou que a proposta americana sobre os cortes nos subsídios domésticos não foi posta sobre a mesa sob a condição de ?pegar ou largar?. O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi mais reticente na possibilidade de detalhar qual a real oferta de abertura de mercado agrícola. Mas mostrou-se disposto a continuar as conversas
Essa é a última ?portinhola? para a Rodada Doha, como definiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que representa um país que aposta todas as suas fichas na liberalização do comércio agrícola mundial e na eliminação dos mecanismos que mais o distorcem. Para o Brasil, por mais e melhores que sejam os acordos de livre comércio que o Mercosul possa concluir, os resultados não chegarão ao impacto positivo que teria um bom acerto na OMC
A essa intenção de prosseguir com as negociações, acrescentam-se outros movimentos que poderão contribuir para a dissolução do impasse e a conclusão dos pré-acordos até o final de julho. Entre eles, a possibilidade de a Rodada Doha ser discutida na reunião cúpula do G-8 (o grupo das sete economias mais ricas do mundo, somado à Rússia), em São Petersburgo, entre os próximos dias 15 e 17. A idéia de levar aos chefes de governo a atribuição de definir as posições de cunho político, mesmo que referentes a temas técnicos, é vista pelo governo brasileiro como a melhor saída
