A crise política e moral que explodiu no Brasil durante o atual governo, e dentro dele principalmente, mas também nas vizinhanças, poderá ter efeitos benéficos para o País. Não que se possa pôr muita fé na punição dos culpados e ressarcimento dos cofres públicos assaltados. Mas em razão de que os escândalos foram tantos, tão escrachados e ruborizaram tanto os brasileiros que nutriam alguma esperança em mudanças, que houve e há uma pressão pública, interpretada com ênfase pela imprensa, capaz de desencadear uma epidemia de moralização. Enquanto o valerioduto enchia os bolsos da turma das maracutaias, a imprensa alimentava, com suas notícias e comentários, esse rubor popular que chegou a manifestar-se em passeatas, cartazes e outros protestos. Diga-se de passagem, todos significativos, embora pequenos e muito comportados.
A epidemia de moralização já apresentou os primeiros sinais. A turma do abafa não conseguiu impedir o funcionamento de todas as comissões de inquérito, parlamentares ou não, embora tenha postergado decisões de algumas até que prazos de prescrição as enterraram. Mas enterram uma, nasce outra, pois a capacidade de agir contra a lei parece incomensurável no seio dos homens que detêm o poder neste País. Hoje, o que cresce mais no Brasil não é nem a agricultura, nem a indústria, nem o comércio, nem a oferta de empregos, nem mesmo as exportações que logram bons resultados. O que mais cresce é o ?denuncismo?, um mal quando se aponta a esmo. Mas um mal que parece que vem para o bem, pois são tantas as maracutaias que, para qualquer lado que se aponte e atire, mesmo que um ou outro inocente saia chamuscado, é certo que algum culpado será atingido.
A indignação popular é tão grande que já se conseguiram normas contra o nepotismo. Poucas, acanhadas e ainda desobedecidas em alguns tribunais, como no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, onde desembargadores vêm tentando salvar os empregos de seus parentes (inclusive da esposa do presidente daquela corte), com a concessão de liminares em mandados de segurança impetrados às pencas. Mas já se firma a convicção de que essa instância é incompetente para decidir sobre a matéria e o presidente do Supremo Tribunal Federal promete que os ministros sob seu comando decidirão sobre a matéria dentro de, no máximo, dois meses. Alguns beneficiários do nepotismo já tiveram de deixar seus cargos e outros terão ainda de fazê-lo.
A epidemia de moralização apresenta outro significativo sintoma na decisão dos deputados e senadores de que, doravante, as convocações extraordinárias não mais serão remuneradas em dobro. Na atual convocação extraordinária, quando deputados e senadores interromperam as próprias férias, faturaram quase R$ 100 milhões dos cofres públicos e não foram trabalhar, ficou decidido que este tipo de assalto aos bolsos dos contribuintes vai acabar. As próximas convocações não terão pagamentos extras.
E tem mais: está sendo decidido quase que por unanimidade dos deputados e acordo dos senadores que as férias remuneradas dos parlamentares, que no Brasil são de 120 dias, passarão a ser de 55 dias, 15 no inverno e quarenta como férias de verão.
As coisas estão acontecendo e é preciso estar de olho vivo. Senão, eles inventam vacinas que acabem com a epidemia de moralização e voltará a esculhambação de sempre.