O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, enfrenta desde a madrugada o maior desafio político e econômico interno, lançado pelos produtores rurais, através de um boicote de nove dias. O protesto que consiste em não vender nem comprar grãos e animais bovinos foi convocado por três das quatro entidades com representatividade nacional. O boicote é contra as medidas econômicas do governo para o setor, mas o movimento foi potencializado pela falta de diálogo entre as partes

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Esse é o segundo boicote que Kirchner enfrenta. O primeiro foi em julho passado, mas o poder de convocação do protesto limitou-se a uma só entidade, Confederações Rurais Argentinas (CRA). Agora, além desta, estão a tradicional Sociedade Rural e a Federação Agrária. Longe de tentar abrir o diálogo, o governo endureceu os controles fiscais e dos preços máximos estabelecidos pelo secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno

As razões do boicote não são simples de explicar, já que a briga entre o setor e o governo vem se arrastando desde o ano passado e já passou por momentos de tensão, quando as exportações de carne bovina foram proibidas em março último. As estimativas do setor são de que os produtores deixaram de ganhar US$ 742 milhões nesse ano por causa das intervenções oficiais no mercado da carne, trigo, milho e leite

As regulações vão desde barreiras para exportações a fixação de preços máximos e cobrança de altos impostos para as vendas externas destes produtos. Mas o que azeda mesmo o humor dos produtores é o xerife dos preços, Guillermo Moreno, um homem que colocou uma arma de fogo na mesa quando foi se apresentar à cúpula da SRA, no final do ano passado, segundo informações dos empresários. Os líderes ruralistas e os empresários locais de uma forma geral qualificam Moreno como um funcionário "grosseiro" e de "índole duvidosa", cuja palavra "diálogo" desconhece completamente

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No Mercado de Liniers, termômetro da adesão ao protesto registrou hoje somente 2.003 cabeças. Em uma segunda-feira normal, o número de animais para ser negociado é bem maior, cerca de 7 mil cabeças. O presidente das Confederações de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa (Carbap), Pedro Apaolazza, "a colheita de trigo vai continuar, mas não haverá nenhuma entrega do cereal"

As entidades programaram para hoje "tratoraços" em todo o país, uma espécie de desfile de tratores nas principais rodovias, com o objetivo de bloquear o trânsito para chamar a atenção da população para o protesto do setor

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