O deputado federal eleito pelo PT de Minas Gerais, Juvenil Alves cogita a possibilidade de pedir o desligamento do partido, segundo informou nesta segunda-feira (27) o advogado Renato Moreira, que foi o coordenador de sua campanha. A executiva estadual do PT mineiro decidiu suspender "prévia e temporariamente" a filiação do deputado federal eleito pela legenda, que na semana passada foi preso durante a Operação Castelhana da Polícia Federal. O advogado tributarista, que foi o mais bem votado candidato do PT de Minas à Câmara na eleição passada (110.651 votos), deve ganhar a liberdade a partir das 0h de amanhã, quando termina o prazo de cinco dias da prisão temporária.
Alves foi apontado pela PF e o Ministério Público Federal (MPF) como o articulador de uma organização criminosa especializada em crimes financeiros que teriam causado prejuízo de pelo menos R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Moreira disse que o deputado eleito está "ansioso" para se explicar ao PT. "Mas se não houver também um interesse do partido que ele permaneça, não vai haver muita discussão quanto a isso. Ele também não vai ter interesse em permanecer ligado num partido que não o deseja ter em seus quadros", afirmou.
Apesar do constrangimento causado à legenda, petistas mineiros ligados a Alves demonstraram desconforto com a decisão da executiva estadual do PT, que contou com o aval do presidente nacional, Marco Aurélio Garcia.
"Eu respeito e me silencio diante do que o partido fez", disse o embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago ao Estado, na última sexta-feira. O embaixador afirmou que apoiou e participou da campanha de Alves porque entende que "ele pode ser um bom componente da bancada e colaborar com governo Lula" pelos seus conhecimentos em direito tributário e direito internacional.
O deputado estadual reeleito Durval Ângelo, que fez uma "dobradinha" com Alves na última eleição, divulgou nota em que se diz "atônito" com o episódio, mas cobra o "cumprimento do princípio constitucional da presunção da inocência". Segundo ele o deputado federal eleito, "como todo e qualquer cidadão brasileiro, tem o direito à ampla defesa, não podendo ser previamente condenado, inclusive pelo Partido dos Trabalhadores". A campanha de Alves, porém, gerou suspeita dentro do próprio PT mineiro.
Na prestação de contas entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ele declarou ter gasto R$ 415.242,95, montante considerado baixo para a votação recebida. A PF se comprometeu a remeter à Justiça Eleitoral para análise documentos referentes à campanha de Alves. Durante a operação, agentes federais apreenderam vasta documentação e R$ 344,5 mil no escritório do advogado, em Belo Horizonte.