Diz-se que a justiça tarda, mas não falha. Entre nós, muitas vezes falha, a menos que estejamos esperançosos na justiça divina, que, para os que crêem, sempre se faz, não necessariamente no Brasil ou neste mundo, mas em outro plano. Para os parlamentares envolvidos no mensalão, caixa 2 e outras irregularidades, o julgamento da Comissão de Ética da Câmara tem sido contundente e pedidos de cassações são enviados ao plenário do Congresso. Mas, aí, o julgamento é político, quando não negociado na base do toma lá, dá cá. Acordões que assam imensas pizzas, os oposicionistas absolvendo situacionistas e estes aqueles, evidenciando espírito de corpo ou, ao menos, inconfessável troca de interesses escusos, que seriam admissíveis, já que quem perde é só o povo. E dinheiro do povo, muitos pensam, não é pecado desviar. Quanto a manipular votos para se eleger, usando recursos escusos, parece pecado ainda menor, pois o eleitorado é tratado como uma manada tangida para onde interessa a certos políticos e partidos. É gado marcado e não raro fragilizado por males como febre aftosa, a desinformação e a pobreza. Destinado ao sacrifício.
Mas, acreditando que a justiça tarda, mas não falha nem mesmo aqui no Brasil, o relator da CPMI dos Correios, o paranaense Osmar Serraglio, do PMDB, que se tem revelado um dos mais enérgicos fiscais dos interesses dos brasileiros, promete que mesmo os casos de absolvição no plenário da Câmara, em julgamentos políticos, serão denunciados através do encaminhamento dos processos ao Ministério Público. Poderão ser processados por sonegação fiscal e crime eleitoral. ?Uma coisa é o juízo político e outra é o encaminhamento para o Ministério Público?, ensina o parlamentar paranaense.
Ele pretende pedir também o indiciamento do ex-ministro Luiz Gushiken, de Comunicação de Governo, e do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.
Em um relatório parcial elaborado no final de agosto, o Conselho de Ética da Câmara acusou dezenove deputados acusados de envolvimento com o chamado mensalão. Três renunciaram aos seus mandatos, numa manobra para não correr o risco de uma cassação que os impediria de ter atividade política por oito anos. Renunciando, poderão ser candidatos nas próximas eleições. Agora, o plenário da Câmara, com acordos espúrios, absolve mais alguns e condenados mesmo só foram o denunciante Roberto Jefferson e o ex-chefe da Casa Civil, que seria o comandante do bando, José Dirceu.
?Ficamos um pouquinho frustrados pelo trabalho que apresentamos. Supúnhamos que haveria uma análise mais cuidadosa do Congresso?, lamenta Serraglio ao se referir às absolvições do Professor Luizinho (PT), Roberto Brant (PFL), Romeu Queiroz (PTB) e Sandro Mabel (PL). Mas, aí, houve sem dúvidas acordos políticos. Responsabilidade, nenhuma.
Já com o Ministério Público, a esperança é de que alguma coisa de conseqüente aconteça. Trata-se de um organismo independente, que não deve satisfações senão à nação. Nem ao governo obedece ou deve ser curvar. Denuncia quem julgar que merece e aí podem entrar os poderosos, sejam da oposição, sejam da situação. E a Justiça, que evidentemente não está isenta de pecados, ainda conserva poderes e isenção suficientes para dar ao povo a satisfação que lhe é devida. Por enquanto, satisfeitos só estão os delinqüentes políticos que saboreiam a grande pizza.