O juiz da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, Marcos Alves Tavares, negou nesta terça-feira (19) o pedido de prisão temporária do assessor especial da Presidência Freud Godoy, demitido do cargo por envolvimento com a compra de dossiê que envolveria tucanos com a máfia dos sanguessugas. Independente de Freud ter culpa ou não no episódio o juiz entendeu no despacho que a prisão solicitada pelo Ministério Público Federal só cabe quando é imprescindível à investigação. O acusado tem residência fixa e se apresentou espontaneamente à polícia.
Conforme o juiz, o pedido de prisão de Freud será reavaliado se, em algum momento, ficar demonstrada a necessidade de acareação entre ele e os demais envolvidos. Mas essa hipótese ficou remota porque Tavares também mandou soltar o empresário Paulo Roberto Trevisan, tio do dono da Planam, Luiz Antônio Vedoin, principal operador do esquema dos sanguessugas. Paulo foi preso como intermediário da venda do dossiê ao PT para prejudicar as campanhas de Serra e do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.
De quebra, o juiz mandou soltar também os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos num hotel em São Paulo com R$ 1 75 milhão que serviria para a compra do dossiê, conforme mostram diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal com autorização judicial. Só Vedoin continua preso por ter violado o acordo de delação premiado e ocultado provas essenciais ao inquérito.
A derrota do Ministério Público Federal foi completa: o juiz também rejeitou o pedido de prisão do empresário Darci Vedoin, pai e sócio de Luiz Antônio Vedoin. Em depoimento prestado na superintendência da PF em Cuiabá, Valdebran reafirmou que o dinheiro foi dado pelo PT como uma ajuda aos Vedoin, que estariam passando por privações e problemas até com casos de doença na família, por causa do bloqueio dos seus bens. Ele não revelou, porém, de onde veio o dinheiro, mas suas pistas foram consideradas importantes para que a polícia e o Ministério Publico cheguem aos responsáveis.
Conforme afirmou, foi um ato de favor que não tem nada a ver com o dossiê. Ele disse também que o material DVDs, fotos e imagens de José Serra (PSDB) numa solenidade de entrega de ambulâncias quando era ministro da Saúde seria analisado e entregue à Justiça, dentro do acordo de delação premiada de Vedoin. A Executiva do PT em Cuiabá suspendeu por 60 dias o registro de Valdebran e abriu processo na sua comissão de ética para investigar se ele está envolvido com a compra do dossiê e só nesse caso será decidida a expulsão.
Gedimar, que é advogado e ex-agente da PF, por sua vez, recusou-se a colaborar e saiu do depoimento indiciado pelo crime de supressão de documentos, cuja pena vai de 6 meses a 2 anos de reclusão, com base no Artigo 305 do Código Penal. No depoimento anterior, ele havia dito que o dinheiro para compra do dossiê fora providenciado por Freud Godoy. Ele alegou o direito de ficar calado para não produzir provas contra si.
No depoimento anterior, ele chegou a descrever os dois emissários do PT que lhe teriam entregue o dinheiro do pagamento do dossiê. O primeiro R$ 1 milhão ele teria recebido de um desconhecido no estacionamento do hotel onde estava hospedado na véspera de ser preso. O restante, de uma pessoa que se identificou como André. O PT, conforme ele havia garantido, teria tido dificuldades de levantar o dinheiro. Assim, teria trazido para a operação um órgão de imprensa que teria exclusividade na divulgação do material, que acabou sendo publicado na revista Isto É. O mesmo dossiê também seria entregue por Vedoin à Justiça Federal de Mato Grosso.