Brasília (AE) – Suspeito de ter mandado destruir provas, o empresário Marcos Valério de Souza poderá ter a prisão preventiva decretada a partir de amanhã (19) pela Justiça Federal. O pedido de prisão está sendo analisado pela Polícia Federal, que enviou a Minas Gerais desde sexta-feira o delegado Praxítenes Praxedes, que atua no inquérito dos Correios, a fim de verificar os documentos das empresas do empresário queimados na periferia de Belo Horizonte. Ele foi ver também as circunstâncias e responsabilidades pela destruição dos papéis, entre os quais notas fiscais frias relativas a contratos com órgãos públicos.
A prisão preventiva tem duração de 30 dias, renovável pelo tempo que durar o risco de dano à instrução criminal e é solicitada em casos de destruição de provas, ameaça à ordem pública e risco de fuga. A PF analisa se estende o pedido ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares e a outros envolvidos no episódio.
Valério e Delúbio já estão sendo monitorados por policiais, para evitar tentativa de fuga para fora do País. Para o delegado Luiz Flávio Zampronha, encarregado do inquérito, a responsabilidade de Valério já está caracterizada. Falta constatar se os documentos incinerados tinham relação com as investigações.
Acusado de ser o operador do "mensalão", suposta mesada paga a parlamentares da base aliada em troca de apoio ao governo Valério disse em depoimento à Procuradoria-Geral da República, na semana passada, que tomou empréstimos na rede bancária para formar o caixa 2 do PT. Ele negou que o dinheiro tivesse origem em sobrepreço acrescentado nos contratos entre o governo e suas empresas de publicidade, DNA e SMPB.
A PF, porém, não está convencida de que o dinheiro não tenha saído dos cofres públicos e continua as invesgações também sobre os documentos apreendidos no escritório de contabilidade, as movimentações bancárias levantadas pelo Conselho de Análise de Operações Financeiras (Coaf) e os contratos do empresário com órgãos públicos. "Eles (Valério e Delúbio) vão tentar criar situações que dêem suporte à versão que produziram. Mas estamos atentos e não vamos engolir qualquer história", disse Zampronha.
Até agora, as investigações da PF já levantaram contra Valério indícios de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, formação de quadrilha e de crimes contra o patrimônio público e o sistema financeiro. Há uma forte desconfiança de que as operações de empréstimo a que se referiram Valério e Delúbio no Ministério Público possam ter sido arquitetadas para encobrir a origem ilegal do dinheiro usado no caixa 2 do PT, a exemplo da Operação Uruguai, farsa montada durante o governo Fernando Collor.
Zampronha informou que em razão das mentiras e omissões do primeiro depoimento à PF, Valério e Delúbio serão intimados a depor novamente ainda esta semana. A única dificuldade da PF está sendo a demora da Justiça Federal de Minas, que deu prazo muito longo para os bancos remeterem os dados da quebra de sigilo de Valério e suas empresas e até agora tem rejeitado vários pedidos de diligência, inclusive o pedido anterior de prisão do empresário. Caso o pedido seja aceito desta vez, Valério ficará encarcerado em cela comum da PF por não ter diploma de curso superior.