Justiça de Genebra decide arquivar processo contra Maluf

Genebra, 07 (AE) – A Justiça de Genebra decidiu arquivar o processo que estava conduzindo contra o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) por ele ter usado os bancos suíços para a lavagem de dinheiro. A informação foi revelada ao GRUPO ESTADO com exclusividade hoje (07) pela Procuradoria de Genebra, que ainda assim faz questão de ressaltar: “Maluf possuiu contas com movimentações expressivas nos bancos suíços”. Amanhã (08), porém representantes da Prefeitura de São Paulo prometem recorrer contra o arquivamento.

A decisão da Justiça de Genebra foi tomada, segundo os suíços, porque não contaram com a “colaboração suficiente” por parte da Justiça brasileira no caso e que, portanto, não possuem informações para indiciar o ex-prefeito.

Conforme informou o GRUPO ESTADO em sua edição de 20 de junho, os suíços haviam aberto uma investigação contra Maluf por ele ter usado os bancos do país para lavar dinheiro, ainda que os recursos já tenham sido transferidos para outros paraísos fiscais. Mas, sem contar com dados dos procuradores brasileiros, as autoridades de Genebra não tiveram outra alternativa senão arquivar a investigação.

A notícia do arquivamento já havia chegado a São Paulo na última sexta-feira (02), o que precipitou uma viagem a Genebra do procurador-geral do município, Antônio Miguel Aith, e do assessor jurídico da Prefeitura, Luis Tarcísio Teixeira Ferreira. A viagem estava marcada para o fim de julho, mas foi antecipada para esta semana, já que o prazo para apresentar a apelação vence amanhã (08). Por meio do advogado da Prefeitura de São Paulo em Genebra, Christian Grobet, o recurso será apresentado na Suíça até o fim desta quinta-feira para salvar o processo.

A estratégia agora consiste em manter o caso aberto, por meio da apelação. A Prefeitura ainda pedirá para ser parte civil no processo em Genebra, o que garantirá que os documentos também sejam enviados para um eventual processo civil contra Maluf no Brasil.

Enquanto isso, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual elaborariam documentos com as evidências dos crimes cometidos pelo ex-prefeito. Essas evidências então seriam enviadas aos suíços para que as investigações em Genebra ganhem novo ritmo e para que Maluf possa ser indiciado no país por lavagem de dinheiro.

Para especialistas suíços, apesar de todas as informações já existentes sobre o caso, o grande pecado dos procuradores brasileiros – da Prefeitura, do Estado ou federais – é que ninguém produziu um histórico das suspeitas contra Maluf. “O que pedimos é simplesmente alguma evidência de suspeitas. Não queremos condenações finais nem mesmo provas concretas”, afirmou um alto funcionário da Justiça de Genebra, que concordou em falar a reportagem sob a condição de manter sua identidade em sigilo.

O que mais surpreende os suíços é que os brasileiros poderiam ter juntado as evidências entre os mais de 20 quilos de documentos enviados pelo juiz de Genebra, Claude Wenger, à Justiça do País. Por dois anos, Wenger reuniu documentos de bancos como o Citibank e UBS que provam a passagem do dinheiro de Maluf por Genebra e Zurique.

Colaboração – Depois da coleta das informações, o processo então foi enviado em abril ao procurador-geral de Genebra, Daniel Zappelli, que deu início às investigações. Mesmo tendo tomado a iniciativa de arquivar o processo, os suíços garantem que Maluf manteve um “significativo volume de dinheiro” no país e que hoje esses recursos estão “em outras praças financeiras”.

As autoridades judiciais de Genebra ainda confirmam estar dispostos a colaborar com o Brasil no caso. “Temos todo o interesse em colaborar. O Brasil e a Suíça acabam de assinar um acordo de cooperação judicial e não há razão para não estabelecer boas relações. Mas, para que o processo possa andar, precisamos das informações por parte da Justiça brasileira”, afirmou o alto funcionário da procuradoria de Genebra.

Não é a primeira vez que o caso Maluf sofre um abalo por falta da colaboração da Justiça brasileira. Durante o estágio inicial do processo, em 2002 e 2003, os procuradores levaram meses para entender o que exatamente os suíços pediam como informações para que aceitassem colaborar com o Brasil no caso.

Quando os brasileiros enviaram os documentos de acordo com o que pedia a lei suíça, em poucos meses quilos de documentos sobre o ex-prefeito chegaram às mãos dos procuradores em Brasília e em São Paulo.

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