Um casal de homossexuais de São Paulo conseguiu na Justiça o direito de adotar uma criança. Os cabeleireiros V.P.G., de 33 anos, e D.P.C.J., de 42, que moram em Catanduva, a 385 quilômetros a noroeste de São Paulo, tentavam desde 1998 adotar uma menina. Na primeira tentativa, em 1998, a Justiça negou o direito, mas na semana passada, o juiz da Infância e Juventude da cidade, Júlio César Spoladore Domingos, aceitou a adoção em pedido feito pelos dois em 28 de dezembro de 2004. Com a decisão, o casal conseguiu o direito de entrar na fila de espera de pais adotivos.
Para conseguir o direito de poder adotar uma criança, V. e D. passaram por uma série de testes, responderam diversos questionários e tiveram a vida familiar vasculhada por psicólogos e assistentes sociais da Justiça. "Eles queriam saber se tínhamos condições psicológicas e sociais de cuidar de uma criança", explica V.. Segundo ele, depois de responder um questionário sobre o perfil da criança que desejavam adotar, o casal teve de passar por avaliações psicológicas e receber assistentes sociais na casa onde mora. Depois disso, o processo foi enviado para avaliação do Ministério Público e Juizado da Infância e da Juventude, que autorizaram a adoção.
À imprensa, o promotor de Justiça de Catanduva, Antônio Bandeira Neto, que se manifestou a favor da adoção, disse que a decisão da Justiça foi baseada na Resolução 01/99, do Conselho Federal de Psicologia, segundo a qual "a homossexualidade não constitui doença, distúrbio nem perversão" e, por isso, não pode impedir a adoção. O casal espera agora uma menina de 2 a 4 anos de idade para adotar.
Nas duas instituições conveniadas de Catanduva há 56 crianças e adolescentes à espera de adoção e no município há 45 casais esperando uma criança para adotar.
V. e D, que estão juntos há 13 anos, já decoraram o quarto da futura filha com detalhes em rosa, como bonecas, cama e outros objetos. "Sabemos que será uma responsabilidade para o resto de nossas vidas e, por isso, vamos fazer essa criança feliz", diz D. Segundo ele, não há preocupação com uma possível discriminação que a criança vá sofrer. "Temos sobrinhos que passaram por isso e soubemos orienta-los", disse D..Para V., a adoção deveria ser uma prática mais comum no Brasil: "há muitas crianças esperando um lar e muitas mães querendo filhos", diz.
