Um sentimento de alívio perpassou o coração de centenas de pequenos agricultores de vários municípios paraenses, quando foi promulgada a sentença de 30 anos de prisão para o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, autor intelectual da morte de irmã Dorothy Stang, abatida por pistoleiros em fevereiro de 2005. A religiosa católica prestava assistência espiritual às famílias dos agricultores, ajudando-os também a viabilizar projetos de exploração sustentável dos recursos naturais.
O trabalho desenvolvido por irmã Dorothy entre os ruralistas conquistou a amizade e o respeito de todos, tendo em vista o trato afável que era a marca registrada da norte-americana que havia pleiteado e obtido a cidadania brasileira.
Não obstante o conceito de retidão desfrutado pela freira entre os habitantes das áreas em que circulava, o advogado de defesa do réu gastou grande parte do tempo na tentativa de lançar sobre a religiosa a pecha de pessoa ?perigosa e vingativa?, que incitava agricultores a invadir terras e eliminar fisicamente quem cruzasse seu caminho.
Sem dúvida, esse será daqui em diante o sacrifício emblemático da luta pela terra no País, chaga social profunda e continuamente lancetada por novos conflitos entre sem terra e grandes proprietários, na maioria das vezes estribados na inexplicável lentidão do aparelho de Estado para amenizar as questões fundiárias.
O Tribunal do Júri do Estado do Pará condenou o mandante do crime à pena de 30 anos de reclusão por homicídio duplamente qualificado, cuja brutalidade atingiu uma mulher indefesa e, acima de tudo, idosa.
De acordo com a legislação penal em vigor, Bida ainda passará por um segundo julgamento pelo fato de ter recebido sentença superior a 20 anos de prisão. O juiz Raimundo Moisés Flecha, contudo, negou o recurso dos advogados do criminoso quanto ao privilégio de aguardar o julgamento em liberdade.
Como em todos os casos de derramamento de sangue inocente, é praticamente impossível a reparação absoluta, porquanto haverá de persistir na memória de familiares e amigos a lacuna irreparável.
Mas, numa espécie de lenitivo tardio à ausência de Dorothy, a Justiça manda também para a cadeia, onde já estão os esbirros que a tocaiaram, o sádico autor da trama diabólica.