Brasília (AE) – O mercado financeiro manteve a aposta majoritária de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduzirá dos atuais 19% para 18,5% ao ano a taxa básica de juros (Selic) na reunião desta semana. De acordo com a pesquisa semanal de mercado divulgada hoje (21) pelo BC, a maioria dos agentes também manteve a previsão de que a Selic cairá para 18% em dezembro. Mas os sinais de enfraquecimento da atividade econômica no terceiro trimestre vêm levando analistas a admitir que o Copom pode fazer um corte maior no final do ano.
O economista do Banco Arx, Sérgio Goldenstein, não descarta a possibilidade de o Copom cortar os juros em 0,75 ponto porcentual já em dezembro. "Vai depender dos indicadores de atividade econômica", disse ele, que é ex-chefe da mesa de títulos público do BC. Segundo Goldenstein, o BC previa a melhora da atividade no último trimestre do ano. "Se isto não acontecer, poderá haver um corte maior da taxa de juros no último mês do ano", disse.
Na pesquisa de hoje, a projeção do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 teve redução expressiva e caiu de 3,20% para 3,09%. Foi a terceira queda consecutiva da previsão, que era de 3,31% há quatro semanas. A expectativa de alta da produção industrial seguiu a mesma tendência e recuou de 3,79% para 3,69%, na quarta semana consecutiva de queda.
Para Goldenstein, a queda da previsão de alta do PIB reflete a retração na produção industrial do terceiro trimestre. Ele ressaltou, no entanto, que o dado da produção industrial ainda sofria os efeitos da política de aperto dos juros feita pelo Copom desde setembro do ano passado. "Os efeitos da flexibilização dos juros ainda não apareceram", comentou.
O economista e sócio da empresa Mauá Investimentos, Caio Megale, aposta mais firmemente numa redução 0,75 ponto porcentual da Selic em dezembro. "Os juros estão claramente fora do lugar", disse. A prova, segundo Megale, é de que nos últimos meses o real se valorizou frente ao dólar mais do que as moedas de outros países emergentes. "Sem uma queda maior dos juros, o câmbio voltará a se apreciar independentemente das intervenções do BC no mercado", disse. Depois desta primeira queda mais substancial, ele acha que o BC poderá começar reduzir os juros em 1 ponto porcentual.
Para a reunião de amanhã e quarta-feira do Copom, os dois economistas concordam que os juros cairão apenas 0,50 ponto porcentual. "O IPCA de outubro veio alto e com elevações tanto nas medidas de núcleo como no índice de difusão", lembrou Goldenstein. Outra questão, segundo ele, é o ritmo de queda da taxa real de juros. "Acredito que o BC trabalhará por um processo de queda gradual dos juros reais", disse. Ele ressaltou que, com a redução de 0,50 ponto da Selic do mês passado, a taxa real já havia caído de 12,6% para 12%. "Se houver um corte de 0 75 ponto porcentual agora, o mercado passará a projetar uma nova redução de 1 ponto porcentual e, com isso, a taxa real cairá muito rapidamente", explicou.