Pega-se dinheiro emprestado a juros ou compra-se a prazo para antecipar a aquisição de bens ou serviços. Quem pega dinheiro emprestado para comprar um automóvel, por exemplo, está antecipando a aquisição de um bem que, de outra forma, só conseguiria depois de juntar dinheiro por longo tempo. Quem compra a prazo está antecipando suas aquisições, incorporando ao seu patrimônio um par de sapatos ou um terno antes de juntar o dinheiro necessário para pagá-los. Esse negócio só é vantajoso quando não se dispõe do dinheiro e os juros que nos serão cobrados são razoáveis, compensando a antecipação da aquisição. Se esses juros são muito altos, o negócio não compensa, pois pagaremos um preço absurdo e ainda corremos o risco da inadimplência. O custo do dinheiro pode inviabilizar o seu pagamento e chegar uma hora em que a gente quebre.
O Procon de São Paulo pesquisou alguns dos principais bancos brasileiros e chegou à conclusão de que quando o Banco Central, através de deliberações do Copom (Conselho de Política Econômica), reduz os juros básicos traduzidos pela taxa Selic, na outra ponta, nos bancos, os clientes não conseguem uma redução equivalente no preço do dinheiro. Os bancos mantêm os juros nas alturas.
Em abril deste ano, os bancos cobravam nos empréstimos pessoais juros de 5,37% ao mês. No mês anterior, 5,38% e, em setembro do ano passado, 5,46%. Nesse mesmo período, o Banco Central reduziu os juros básicos de 19,75% para 16,5% ao ano. Assim, essa queda não repercutiu proporcionalmente em favor dos mutuários. Estes continuaram a pagar aos bancos juros elevadíssimos. No cheque especial, os bancos também não repassaram para seus clientes as quedas da taxa Selic. Os juros nesta modalidade de empréstimos recuarem de 8,32% em setembro do ano passado para 8,21% em abril. Em março, a taxa era esta mesma. Caíram os juros no Brasil, mas não na boca do caixa dos bancos.
As justificativas dos banqueiros são muitas. Em primeiro lugar, os juros não estão tabelados e há mais procura por crédito que oferta de dinheiro, pois o governo pega a maior parte do existente. E eleva as taxas de juros para tornar atraentes seus títulos de crédito, que vende dentro do País ou lá fora. De outro lado, o governo controla uma boa parte do dinheiro do País através do chamado compulsório, recolhendo enorme parcela ao Banco Central. Queixam-se ainda os bancos de que as taxas de juros são muito elevadas pelo excesso de impostos que incidem sobre as operações de empréstimos. Observe-se que o governo tira dinheiro de todos os lados e é, evidentemente, um dos principais responsáveis pelos juros altos. Também é responsável porque adota uma política às vezes necessária, por vezes discutível, de manter o dinheiro caro para evitar um surto inflacionário via aumento excessivo da demanda. Há ainda o fundamentado argumento do sistema financeiro de que a excessiva inadimplência obriga a elevar os juros para tapar os buracos deixados por quem não paga.
A solução mais viável, aconselham os entendidos, é os tomadores não aceitarem negócios a juros elevados. Se ninguém aceitar, haverá sobra de dinheiro e seu preço cairá. Ironicamente, a teoria busca nos convencer de que nós, os tomadores, é que somos culpados.