Juros de um dígito

Armínio Fraga, presidente do Banco Central, respondendo a perguntas de repórteres, admitiu que, se convidado, poderá continuar à frente do Banco Central no próximo governo. Pensa, é claro, na possibilidade de um governo de José Serra, pois é certo que não terá chances com Lula ou outro dos candidatos à chefia da nação. No exercício do cargo, chegou a tal prestígio que até o ex-governador do Distrito Federal, Cristóvão Buarque, do PT, chegou a recomendar a Lula que o mantivesse, considerando a necessidade de conservar a confiança do mercado nos fundamentos da economia brasileira e suas qualidades de homem de mercado. Mas sua indicação foi desde logo rechaçada pela maioria dos petistas e hoje se afigura impossível, face ao debate sobre as turbulências que sacodem o mercado e a discussão sobre suas causas. Não faltam acusações a Fraga, como tendo responsabilidade pela eclosão das tempestades.

Se considerarmos, entretanto, que diante das turbulências todos os candidatos começam a falar na necessidade de manutenção dos fundamentos da economia brasileira, a continuidade com Fraga perde o caráter de absurdo para ser considerada factível. Mas inexistem condições políticas para tal, salvo se Serra ganhar as eleições. José Serra já declarou que convidou Armínio Fraga para o cargo, em caso de sua vitória no próximo pleito.

Fraga ou tem certeza da vitória de José Serra ou acredita que, mesmo que vença Lula ou qualquer outro candidato, os fundamentos da economia e os compromissos assumidos serão cumpridos. Aliás, essa é a reza, em alta voz, que no momento Lula, Serra e Ciro fazem em coro. Por isso, faz previsões positivas para a economia brasileira. Nesta semana, disse que grande parte dos esqueletos, dívidas antigas do setor público reconhecidas pelo governo, responsáveis pela elevação da dívida pública, resultaram de planos econômicos que “reduziram artificialmente a dívida”. São amarga herança dos tempos em que tínhamos ministros da Fazenda lançando planos milagrosos, heterodoxos, para “conter” a inflação.

Armínio Fraga assegura que no futuro, e aí inclui-se o período do próximo governo, será possível baixar os juros reais para um dígito e a relação dívida/PIB entrar em queda. Essa relação hoje é inadequada, reconhece o governo. “Pode parecer otimista em um momento como este, mas tenho absoluta certeza de que é realista”, afirmou.

Ele lembrou que a dívida pública atrelada ao dólar tem um perfil de longo prazo e vaticinou que o real tende a se valorizar frente à moeda norte-americana. Isso reduzirá a relação dívida/PIB. Frisou, entretanto, que esses objetivos só serão atingidos se mantidos o compromisso fiscal do setor público e o regime de metas inflacionárias.

Serra desde o início tem esses compromissos. Lula, em suas mais recentes declarações, tem afirmado com firmeza que cumprirá tais metas. Ciro idem e só Garotinho deixa algumas dúvidas. Mas, mais dúvidas ainda deixa sobre as possibilidades de sua vitória nas eleições. O prognóstico de Armínio Fraga é alvissareiro, considerando-se que é o que o País precisa e que é feito por um homem de mercado, conhecido e respeitado no exterior. Mesmo que não venha a se concretizar, é para o desconfiado mercado que põe na berlinda o Brasil, provocando alta excessiva do dólar e retração nos investimentos, um aval de grande peso.

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