De Angola, a grande massa do povo brasileiro sabe pouco. Alguns sabem que foi uma colônia portuguesa. Tem a nossa mesma língua. Que fica na África e sofreu uma guerra civil, depois de sua independência. Mais se deve saber daquele país africano, pois é nosso irmão. Temos de estreitar com ele relações. Pode vir a ser um mercado para os produtos brasileiros.
Agora, adicionam um outro dado sobre Angola que nos mostra que está próximo do Brasil. Lá pratica-se a maior taxa de juros do mundo. Em média, 88% ao ano. O Brasil está em segundo lugar. A taxa média, aqui, cobrada pelos bancos de pessoas físicas e jurídicas, chega a 56,6% ao ano. Dentre os países que informam suas taxas ao Fundo Monetário Internacional, verifica-se uma diferença abismal com outro país emergente da América Latina, o México. Lá, os juros são de 5,3% ao ano, dado de dezembro último.
Na Indonésia, que informa ao FMI apenas a modalidade capital de giro para empresas, a taxa de empréstimo é de 15,5% ao ano.
No Brasil, essa taxa para empresas é de 42,1%. Comparar os juros cobrados no Brasil com os cobrados em países desenvolvidos é uma covardia. No Japão, a média de juros para empresas e consumidores é de 1,8% ao ano. Nos Estados Unidos e no Canadá, é, em média, 4% e 4,5% ao ano, respectivamente.
Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, diz que “por isso a produção brasileira compete em desvantagem com a concorrência estrangeira, tendo que descontar a diferença em padrões salariais ou desvalorizações cambiais”. Diz que “a produção doméstica, especialmente a industrial, está assistindo a suas vendas para o mercado interno definharem em virtude não só da queda da renda real, mas também da escassez de crédito e dos ?spreads? cobrados no mercado interno”.
Os motivos dessa verdadeira extorsão que sofremos são vários. Em primeiro lugar, a taxa básica de juros, ditada pelo governo, a Selic, é altíssima. Está em 16,5%. A desculpa é o combate à inflação, mas se isto é conseguido por essa via, também pelo mesmo caminho se consegue retrair a produção e o consumo.
Outro motivo é a proliferação, entre nós, de financeiras que cobram juros estratosféricos em empréstimos nos quais dispensam garantias. E vítimas são geralmente os pobres. O cliente só toma conhecimento do valor da prestação. Se cabe no seu orçamento, pega o dinheiro. Não cogita de quanto estará, afinal, pagando. E o governo, que por lei deve combater a agiotagem e se interessa, em nome da economia popular, por combater até os bingos, fecha os olhos para essa roubalheira oficializada.
Outro motivo é a falta de competição no mundo financeiro. Os bancos não competem entre si e, na busca de clientes pessoas físicas, a tática é ter clientes pessoas jurídicas cativos. Oferecem vantagens às pessoas jurídicas para que neles depositem os salários de seus funcionários. Estes não têm escolha. Seu dinheiro está sempre no banco que o empregador quer e se desejar fazer operações passivas, terá de se sujeitar ao que lhe pedem. A livre escolha dos bancos com que se deseja operar, sem dúvidas, estabeleceria uma sadia concorrência que levaria ao rebaixamento das taxas de juros. A inadimplência é outro motivo alegado das taxas altas, mas há casos em que elas são tão altas que nem interessa ao sistema financeiro forçar a cobrança. Os que atrasam os pagamentos, quando pagam, dão altíssimos lucros.