Os juros dos empréstimos bancários aos consumidores permaneceram estáveis em 63,2% ao ano no mês passado. A estabilidade verificada em relatório divulgado hoje pelo Banco Central (BC) veio na contramão das decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nos meses de setembro e outubro. Nestes dois meses, a taxa básica de juros da economia deu um salto de 0,75 ponto porcentual e passou de 16% para 16,75% ao ano.
A mesma tendência de estabilidade se verificou nos primeiros sete dias úteis do corrente mês de novembro, quando já havia no mercado uma percepção de que o Copom voltaria a puxar a taxa de juros para cima na reunião do último dia 17.
Segundo o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, o comportamento se deve ao custo dos empréstimos bancários, que não responderam de forma direta a uma mudança na taxa básica definida pelo Copom. "O crédito responde mais à curva futura de juros (projeções de mercado de juros no futuro) e não ao comportamento da Selic", disse.
O aumento dos empréstimos com desconto em folha foi outro fator a contribuir para a estabilidade das taxas. "O aumento do emprego formal tende a incrementar esta modalidade de crédito", disse o chefe do Depec. Nestas operações, a taxa de juros cobrada pelos bancos estava em 39,12% ao ano, contra uma taxa de 73,8% ao ano do crédito pessoal. Só no mês passado, a expansão desta modalidade de crédito chegou a 6,8%, com o saldo das operações tendo chegado aos R$ 10,917 bilhões. O volume de novas concessões de empréstimos com desconto em folha no mês passado chegou aos R$ 1,380 bilhão. Em janeiro, o nível de concessão ainda era de R$ 619 milhões.
Apesar da estabilidade da taxa geral de juros, o BC registrou em outubro uma alta dos juros do cheque especial de 140,6% para 141,1% ao ano. "Nos primeiros sete dias úteis de novembro, a taxa do cheque especial havia oscilado para 141% ao ano", disse o chefe do Depec. Ele, entretanto, acha que não é possível indicar que haja uma tendência consolidada de alta dos juros destas operações. "É o movimento de um mês", disse. O chefe do Depec ressaltou, ao mesmo tempo, que houve um recuo do volume das operações de cheque especial no mês passado. "É possível que isto indique uma migração para o crédito com desconto em folha", disse.
Ao mesmo tempo em que as taxas de juros ficaram estáveis o BC registrou uma nova elevação dos empréstimos concedidos pelo sistema financeiro no mês passado. O estoque destas operações, segundo os dados do BC, teve um aumento de 2,3% e passou a acumular no ano uma alta de 15,4%. Nos primeiros setes dias úteis de novembro, o chefe do Depec disse que os empréstimos já tinham crescido mais 2%, sendo 1,1% de aumento das operações com empresas e 3,5% de crescimento no crédito concedido aos consumidores. A baixa taxa de inadimplência nestas operações indica que ainda há espaço para novas expansões do crédito nos próximos meses.