Decidida às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais a nova redução dos juros em 0,50 ponto porcentual, promovida ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acabou inevitavelmente virando tema político. Na avaliação do governo, a queda, embora tenha vindo na medida prevista pelo mercado, foi mais um passo para que sejam criadas condições de crescimento mais acelerado da economia. A oposição, por sua vez, criticou o fato de que a taxa real (descontada a inflação) ainda é a mais alta do mundo.

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O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), por exemplo, destacou que a redução levou a Selic "ao mais baixo nível da história recente" do País. "Essa redução, no ambiente pré-eleitoral, mostra bem a diferença do País que recebemos depois dos oito anos de reinado de Fernando Henrique Cardoso, quando a taxa Selic era de 25%", disse Fontana. Segundo ele, os números atuais são "mais um passo para a consolidação da vitória do presidente Lula" na eleição.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), no entanto, a redução da Selic não pôde ser maior por causa do quadro de irresponsabilidade fiscal do governo Lula. "O Banco Central termina sempre sendo o Cristo de um governo irresponsável", disse Arthur Virgílio. Segundo ele, o governo tomou várias medidas eleitoreiras, aumentando gastos, o que gerou um quadro de desorganização fiscal que nesse momento obriga o BC a ser conservador. Virgílio observou que a redução da Selic está dentro do previsto e não surpreende.

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que não há motivo para os petistas comemorarem a decisão do Copom porque a taxa básica de juros "continua sendo a mais alta do mundo". Na avaliação do senador, o BC poderia ter baixado a Selic para o atual nível há muito mais tempo. "Mas o BC é conservador, porque não confia no ministro da Fazenda nem no presidente Lula. Ele tem medo das irresponsabilidades deste governo", disse Bornhausen.

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A decisão que seria tomada pelo Copom foi um dos temas da reunião da Câmara de Política Econômica, ocorrida ontem de manhã no Palácio do Planalto. Embora o BC venha atuando com autonomia na fixação da Selic, a queda dos juros é vista pelo governo e pelos empresários como fator importante para garantir o aumento dos investimentos produtivos.