O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), que chefiou o Ministério do Desenvolvimento Agrário no governo de Fernando Henrique Cardoso, vê a proposta de extinção da pasta como um gesto de desespero político do MST e da CPT. ?Seria uma loucura jogar diretamente no gabinete do presidente da República os conflitos de terra de todo o País?, diz ele.
?O MST e a CPT fazem isso porque estão num beco sem saída: não viram a reforma agrária deslanchar no governo Lula, como sonhavam, e ao mesmo tempo não conseguem romper com este governo?, continua o ex-ministro. ?Restou-lhes exigir que seja dado status de ministério ao Incra, que está mais próximo da ideologia dessas correntes do que o ministério, mais próximo da Contag. Querem um ministério para eles, para o seu aparelho político?, afirma.
O ex-ministro Miguel Rossetto, que permaneceu à frente da pasta durante quase todo o governo Lula, qualifica a proposta como um ?equívoco estratégico?. Ele defende a permanência da pasta como articuladora e executora de políticas voltadas não só para a reforma agrária: ?Temos no País 4 milhões de famílias de pequenos agricultores, que necessitam de estratégias de apoio específicas.
Vinculado ao PT do Rio Grande do Sul, Rossetto afirma que o grande desafio do Brasil é construir um modelo agrícola diferente daquele que se baseia na concentração da terra e na monocultura. ?Para vencer o desafio não basta distribuir terra. O Incra, o braço executor dessa tarefa, é apenas parte de uma estratégia bem mais ampla.
Secretaria
O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, vê com bons olhos a extinção do ministério. Isso permitiria a concretização de uma antiga bandeira dessa organização, que é a volta da Secretaria da Agricultura Familiar ao Ministério da Agricultura. ?Atualmente os assuntos referentes à área rural estão distribuídos em seis ministérios, o que é um contra-senso?, diz ele. ?Mas a separação dos assuntos referentes aos pequenos produtores do Ministério da Agricultura é um contra-senso ainda maior?, completa.
Para o ruralista, é um erro imaginar que a agricultura familiar não faça parte do agronegócio. ?O microprodutor tem um impacto colossal no agrobusiness, como fica claro para quem observa a ação das cooperativas rurais, especialmente no Paraná e Santa Catarina?, afirma. ?O mais lógico é que o governo defina planos de ações para todo o agronegócio.