Encarregado das apurações sobre o envolvimento de servidores do governo com o esquema da máfia das ambulâncias, o sub-relator da CPI dos Sanguessugas, deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) protestou contra o boicote que estaria sendo imposto a seu trabalho. Segundo ele, a CPI "sepultou" essa parte da investigação, ao manter engavetados, desde setembro, os pedidos de convocação de 29 pessoas e a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de 40 supostos implicados na fraude. Redecker disse que preparou esses requerimentos tendo como base o cruzamento da aquisição de ambulâncias superfaturadas com os responsáveis pelo aval dessas transações.

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"Estamos diante de um caso raro de obstrução da Justiça no Congresso", acusou, na primeira reunião da comissão depois do segundo turno das eleições. "O risco hoje é o de sepultar esta CPI viva". Entre os nomes que acredita terem sido poupados pela comissão estão o do ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Saúde Humberto Costa Antonio Alves de Souza, os dos subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração dos ministérios da Saúde e da Educação, respectivamente, Ariovaldo Bonfim Rosendo e José Henrique Paim Fernandes, e o do coordenador-geral de execução orçamentária do Fundo Nacional de Saúde, Erasmo Ferreira da Silva.

O presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), rechaçou as palavras do sub-relator. Biscaia disse que os requerimentos não foram votados por falta de quorum. "O que não é responsabilidade desta presidência e nem dos senhores aqui presentes", defendeu. O boicote, segundo Júlio Redecker, resultou numa CPI atípica, com a prerrogativa de apontar em agosto 72 parlamentares implicados na fraude – 69 deputados e três senadores – e de preservar o governo, ao se omitir na investigação de seus servidores. "Dizer que é possível restringir os fatos ao envolvimento de parlamentares é a mesma coisa de dizer que o filho nasceu só com a atuação de um dos cônjuges", ironizou.

"É claro que houve um casamento de interesse para que surgisse a corrupção". O sub-relator disse que, sem a votação dos requerimentos, acha difícil concluir seu trabalho até o encerramento das atividades da CPI, dia 22 de dezembro. "Simplesmente porque não temos elementos", explicou. Ele disse que, com o seu protesto, quer dividir a responsabilidade com todo o plenário. "Não sou eu que não quero terminar a apuração, quem não está querendo são os membros da comissão", afirmou.

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