Juiz preso diz que PT não queria investigar morte de Celso Daniel

Brasília – O juiz João Carlos da Rocha Mattos, que depõe neste momento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, afirmou ter ouvido trechos das gravações telefônicas indicando que o Partido dos Trabalhadores não queria que as investigações sobre o assassinato de Celso Daniel avançassem. Segundo o juiz, as gravações foram feitas pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público de São Paulo entre janeiro e março de 2002. "Seria desastroso para a campanha presidencial", disse.

Rocha Mattos foi preso em novembro de 2003 durante a Operação Anaconda, organizada pela Polícia Federal e Ministério Público. Condenado a três anos de prisão por vender sentenças judiciais para beneficiar criminosos, o juiz também será julgado por outros crimes como falsidade ideológica, corrupção passiva e peculato. Mattos afirma que ouviu fitas gravadas pela PF com diálogos telefônicos de pessoas envolvidas no assassinato de Celso Daniel, então prefeito de Santo André (SP). Segundo o juiz, uma cópia das fitas está na 4º Vara Criminal Federal de São Paulo.

Para o juiz, os integrantes do PT não queriam que as investigações avançassem porque seria descoberto o esquema de corrupção na prefeitura de Santo André. De acordo com Rocha Mattos, entre as pessoas que tiveram conversas gravadas estavam o então secretário da prefeitura de Santo André e hoje chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o secretário Klinger de Oliveira Sousa, além de Sergio Gomes da Silva (o Sombra) e o empresário Ronan Maria Pinto.

Segundo o juiz, nas gravações, Gilberto Carvalho e Klinger Oliveira sugeriam à mulher de Celso Daniel, Ivone Santana, que passasse a imagem de vúva sentida. "A Ivone era totalmente instruída para se comportar como uma viúva sofrida. As ligações para ela eram bastante nervosas e grosseiras. Não havia nenhum sentimento de compaixão com a morte do prefeito. Eram só preocupações com a investigação", acrescentou. Segundo Mattos, isso seria uma forma de indicar que foi um crime comum.

Ele disse ainda que as gravações começaram a ser feitas pela Polícia Federal com o objetivo de investigar o tráfico de drogas, mas, na verdade, "eles (a PF) investigavam o caso Celso Daniel". Rocha Mattos contou que madou destruir a versão original das gravações, 42 fitas. Segundo ele, houve desvio de finalidade e por tanto as fitas não poderiam ser utilizadas como provas legais.

Celso Daniel foi seqüestrado em janeiro de 2002. Ele estava acompanhado do empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra. Dias depois, o prefeito foi encontrado morto e Sombra foi acusado como mandante do crime. O Ministério Público levantou a possibilidade da morte do prefeito estar vinculada a um suposto esquema de corrupção. De acordo com a tese do MP, ele teria sido assassinado por não concordar com esse esquema. Em agosto deste ano, a Polícia Civil reabriu o caso.

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