A técnica de “Ensino da Alternância” utilizado em 42 Casas Familiares Rurais (CFR) no Paraná, tem possibilitado a melhoria de condições de vida de jovens que moram em cidades menores no interior do Estado. Através de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação (Seed), Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) e da Associação Regional das Casas Familiares do Sul (Arcafar/Sul), jovens podem receber conhecimentos técnicos, econômicos, sociais e ambientais, que posteriormente são aplicados nos locais onde moram.
De acordo com Cândida de Carvalho Junqueira, coordenadora do programa por parte da Seed, nessas casas os jovens estudam em período integral de segunda a sexta-feira e depois continuam trabalhando em suas propriedades. “Trata-se de um convênio que tem como foco proporcionar esse ensino específico aos filhos de pequenos agricultores. Eles ficam uma semana estudando na CFR e outra aplicando as técnicas supervisionados por um engenheiro agrônomo”, explica.
Em cidades menores é comum os jovens abandonarem a escola por causa da distância ou até mesmo pela impossibilidade de ficar fora todos os dias para estudar, o que prejudica o trabalho desses pequenos agricultores nas pequenas propriedades. “As CFR atingem regiões onde a Seed não consegue alcançar, bem como aqueles alunos que não podem ficar fora de casa. Com a alternância estamos conseguindo chegar naquele aluno que abandonou o estudo por causa do trabalho”, diz Junqueira.
O aluno fica três anos nas casas rurais. Nesse período ele pode concluir o ensino médio com qualificação técnica. “Com isso ele deixa o programa formado nos cursos técnicos que disponibilizamos”, informa Cândida. Os cursos formam os alunos em Técnico de Agropecuária, Agroecologia, Gestão Ambiental, Administração Rural ou Agroindústria. Cerca de dois mil alunos se formam anualmente.
A coordenadora diz ainda que esse tipo de ensino evita o êxodo rural. “Esses cursos possibilitam o aumento da lucratividade dos negócios. Temos relatos de jovens que queriam abandonar escola rural e partir para Curitiba. A técnica da alternância permite que ele fique na zona rural com melhor qualidade de vida. Damos suporte e oportunidade para que ele atue na região onde vive”, ressalta.
Recursos
Nessa parceria a Seab entra com a negociação para angariação de recursos para as casas rurais do Paraná. Segundo Carlos Roberto Bittencourt, secretário executivo da Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural da Agricultura Familiar, da Seab, recentemente foram liberados R$ 250 mil para CFR de Santa Maria e Pitanga, além de cinco tratores e equipamentos agrícolas para as casas do Estado. A maioria dos recursos são provenientes do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). “Com isso conseguimos promover a reforma e construção de casas familiares, compra equipamentos completos, carros e computadores”, cita.
Maioria dos alunos acabou ficando na atividade rural
De acordo com a Arcafar/Sul, 86% dos alunos permanecem onde vivem desenvolvendo atividades aprendidas durante a estadia nas CFR. Na prática, alunos que concluíram o curso constatam a melhoria de vida. É o caso do agricultor Adílson Carrestini, de Santo Antônio do Sudoeste, que há um ano e meio está formado no curso de Agropecuária. “Aprendi técnicas que vou poder utilizar a vida toda. Além de aprender, já estou repassando para colegas aplicarem em suas propriedades também”, diz.
Segundo Carrestini, o curso de Agropecuária o ajudou a melhorar os lucros com a criação de gado de corte. “A parte da adubação do pasto, por exemplo, está sendo essencial para a minha criação. Estou produzindo mais e melhor”, relata.
Para Rafael Seiter, de Pranchita, formado desde 2008 também no curso de Agropecuária, os benefícios foram vários. “Aprendi muitas técnicas que vão des,de produção de leite até fruticultura.
O curso é muito bom”, conta o agricultor que trabalha com olericultura, frutas, verduras e produção de leite. “Temos tudo aqui na propriedade, não nos falta nada. Agora pretendo continuar estudando para me aperfeiçoar na área da veterinária”, adianta.
Para Dirce Maria Slongo, engenharia agrônoma e assessora pedagógica do Arcafar/Sul, esses resultados proporcionam integração da jovem com a família e comunidade, aumento da autoestima, oportunidades de trabalho e renda na propriedade da família, “além da permanência do jovem no próprio meio, mas de forma empreendedora”, avalia.
Todos os alunos envolvidos com as CFR são orientados por professores a continuarem o projeto de vida iniciado no trabalho de formatura. “A pedagogia da alternância não
é apenas a teoria. Trata-se de um conhecimento que tem significado para a vida toda. Ver o conhecimento cientifico e aplicá-lo na propriedade trás inúmeros benefícios aos envolvidos”, diz. (LC)