O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), pré-candidato a presidente, enfrentou hoje o maior protesto em eventos públicos desde que assumiu o cargo. A manifestação aconteceu na inauguração de duas escolas no Parque Novo Mundo, zona norte. Cerca de cem moradores da Favela da Funerária, que fica ao redor das escolas, cobraram do prefeito a construção de moradias. Serra acusou o PT de orquestrar o protesto.

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Com cartazes com os dizeres "Queremos moradia" e "Prefeito, esqueça a eleição de 2006 e lembre-se de nós", o grupo entrou na escola e exigiu atendimento aos moradores que foram vítimas de dois incêndios ocorridos em dezembro na favela – 235 barracos pegaram fogo, mas apenas 50 famílias foram assistidas pela Prefeitura. Segundo o governo, houve um erro no cadastramento e muitas pessoas que não estavam entre as vítimas receberam ajuda – verba de R$ 5 mil – no lugar das verdadeiras vítimas.

Antes de Serra falar, vereadores e o secretário de Educação, José Aristodemo Pinotti, tentaram em vão acalmar os manifestantes, enumerando feitos do prefeito na área habitacional. Ao pegar o microfone, Serra tentou ignorar a manifestação, citando os benefícios que as escolas levariam à região, mas o tumulto só aumentou. Sob vaias, ele decidiu dialogar. "Eu vi uma faixa dizendo que favela é culpa do governo. São Paulo foi governada por quatro anos por quem está organizando essa manifestação e deixou essa situação assim", disse, ao pedir que os manifestantes conversassem com o secretário de Habitação, Orlando de Almeida, que estava no local.

Sheila da Silva, de 27 anos, uma das manifestantes, foi convidada a subir ao palco por Serra. Ela explicou o motivo do protesto: "Não queremos R$ 5 mil. Queremos moradia." Serra respondeu: "Eu entendo o desejo dos que querem morar direito, ter seus filhos em uma escola decente, mais saúde e melhor transporte. Estamos trabalhando para isso." Depois de quase dez minutos de confusão, os manifestantes concordaram em falar com o secretário e Serra retomou a inauguração. O presidente municipal do PT, Paulo Fiorillo, reagiu à acusação do prefeito. "Jamais houve participação do PT no protesto." O líder comunitário da favela, Cícero Pinheiro do Nascimento, também negou conotação política no ato.

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