Enquanto a Polícia Federal segue as pistas deixadas pela CPI do Banestado, o deputado José Mentor (PT-SP), que foi o relator da comissão – e, nesse papel, brigou o tempo todo com o presidente da comissão, o tucano Antero Paes de Barros (MS) – trabalha duro em dois outros fronts. No primeiro, para esclarecer sua atuação em relação em Banco Rural, durante a CPI; e no segundo, para mostrar ao Conselho de Ética da Câmara que não houve nada de irregular nos R$ 120 mil que recebeu da empresa mineira Tolentino e Mello Associados, ligada ao publicitário Marcos Valério de Souza. Por causa desta última, seu nome está entre os 16 "cassáveis" listados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão.
O deputado alega que é improcedente, totalmente injusta, a acusação que lhe fazem adversários, especialmente do PSDB, de ter poupado o Banco Rural no relatório final da CPI do Banestado. Para provar essa tese, remeteu ao Conselho de Ética uma detalhada documentação sobre seu trabalho nas reuniões da CPI, que investigou a remessa ilegal de grandes quantias de dinheiro para o exterior. Entre tais provas de que não estava protegendo ninguém, Mentor enumera sete requerimentos que apresentou à CPI, nos quais pede informações ao Banco Central sobre o Rural, convoca o presidente deste para depor, pede quebra de sigilos bancários e reconvoca um dos diretores do banco, Fernando Toledo, para falar sobre a offshore Trade Link Bank – além de outros pedidos. "Além disso, não há nada dessa história de ter tirado 100 páginas do relatório final que falavam sobre o Banco Rural", defende-se Mentor. "Primeiro, eram talvez umas 20 páginas. Segundo, elas e muitas outras ficaram de fora, por tratarem questões inconclusas e porque, diante das denúncias mais graves, trazidas principalmente pela operação Beacon Hill da Polícia Federal, tinham pouca importância."
Dinheiro
Na questão do dinheiro do valerioduto, o deputado petista apresenta comprovantes para mostrar que as operações nada tiveram de irregular. "Eu recebi, sim, esse dinheiro", disse ele hoje. "Dos R$ 120 mil, metade fui eu mesmo que informei à CPI, que só sabia de R$ 60 mil". Segundo ele, "é dinheiro limpo, tem notas fiscais dos serviços, cheques normais, dos quais enviei cópias à CPI. Nada escondido".
O trabalho executado para os sócios de Valério, informa ele ao Conselho, dividiu-se em três partes. Uma das tarefas era analisar a Lei de Responsabilidade Fiscal e os contratos de prestação de serviços. Outra, direitos dos trabalhadores e tipos de contratos trabalhistas. A terceira, sobre a necessidade, ou não de fazer licitação na área de publicidade". "Não há nada ilegal nisso", conclui. "Se me cassarem, é porque sou do PT e porque enfrentei a oposição na CPI do Banestado."