O Supremo Tribunal Federal (STF) já tinha garantido a votação na Câmara da recomendação pela cassação do deputado José Dirceu (PT-SP), os advogados já tinham tomado as providências jurídicas possíveis, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PcdoB-SP), já tinha confirmado duas vezes que haveria sessão que decidiria o destino do deputado, mas o ex-homem forte do governo Lula não desistia. Ao mesmo tempo em que preparava o discurso de defesa, Dirceu articulava com os companheiros de partido, no fim da tarde, uma última saída: uma questão de ordem que levasse a Mesa Diretora a cancelar a sessão.

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O próprio deputado e os aliados mais próximos sabiam que seria muito difícil adiar a votação, mas Dirceu optou por manter até o último minuto a postura de quem não aceitaria ser julgado sem recorrer a todas as formas de defesa. Em seu apartamento, na Asa Sul, onde passou o dia todo, Dirceu ouviu as avaliações do principal aliado na luta pela preservação do mandato, o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), acompanhou a contagem de deputados na Câmara – às 16h, eram 462 do total de 513 -, falou por telefone com líderes partidários e recebeu ligações de solidariedade de companheiros de partido como o ex-ministro Olívio Dutra.

Na véspera, tinha traçado a estratégia do dia seguinte com Sigmaringa Seixas e o advogado de defesa, José Luis Oliveira Lima. Às 8h de hoje, já estava pronto para receber o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), a quem deu uma entrevista para ser transmitida em uma cadeia de rádios do Pará.

Dirceu fez uma opção por um discurso que falasse, de um lado, para os deputados de esquerda, dizendo que aquela sua condenação seria a vitória de uma perseguição política a ele e ao governo do PT. De outro, Dirceu escolheu como alvo deputados não-aliados e considerados de centrou ou de direita, a quem disse que a condenação sem provas poderia hoje atingi-lo e amanhã poderia acontecer com qualquer um deles.

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O clima era de moderado otimismo quando, antes das 16h, a decisão do Supremo jogou um balde de água fria nas expectativas. A defesa de Dirceu tinha esperança de que os ministros deixassem clara a necessidade de nova publicação do relatório do Conselho de Ética recomendando a perda de mandato, o que transferiria a votação em plenário para a semana que vem. Mas o tribunal foi claro ao dizer que não haveria novo relatório. Os colaboradores do deputado, que esperavam uma decisão "meio-termo" tiveram que recorrer a uma petição, entregue a Aldo Rebelo. O advogado chegou à Câmara pouco depois das 16h com a petição, com poucas esperanças de que fosse atendida. "Como vou preparar a defesa se não conheço o relatório?", insistiu Oliveira Lima.

Não havia, entre aliados e oposicionistas, quem apostasse em uma vitória de Dirceu no plenário, embora alguns não duvidassem que ele pudesse conseguir um artifício de última hora para adiar mais uma vez a votação secreta no plenário. "O ambiente não é favorável a ele, mas temos que esperar o resultado. O melhor é votar logo, é o melhor para a Câmara decidir isso hoje e passarmos a tratar de outros temas", disse o governista Renato Casagrande, líder do PSB na Câmara.

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Na contramão dos discursos da oposição, o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA) pediu cautela e defendeu a votação somente na semana que vem. "A opinião pública pode ficar um pouco irritada, mas para que açodamento? É preciso cumprir os prazos para depois não ter contestação", disse Aleluia. O deputado duvidou de uma manobra para esvaziar o quórum. "É muita humilhação faltar a sessão", atacou. E não perdeu a chance de, ao reconhecer a importância política de Dirceu, atacar o presidente Lula: "Eu gostaria de estar julgando o deputado José Dirceu e o presidente Lula. O deputado é um grande quadro político. É um absurdo Lula ficar aí e não se poder votar em José Dirceu durante oito anos. A cassação de Dirceu ajuda Lula, porque é como se estivessem dizendo que o deputado foi o culpado de tudo e Lula não teve nada com isso", protestou Aleluia.

No início da tarde, Dirceu ainda reservou parte do tempo para receber em casa dois policiais da Polícia da Câmara, que ouviram o depoimento do deputado e registraram a queixa por agressão contra o escritor Yves Hublet, que atacou Dirceu com bengaladas na noite de terça-feira, na Câmara.

Entre os aguerridos defensores de Dirceu estava o ex-presidente da Câmara e ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato para escapar da cassação depois de ser acusado de cobrar propina para prorrogar contratos de restaurantes. Severino disse que apelou "à consciência" dos parlamentares para que votassem contra a cassação, pois Dirceu, na avaliação do ex-deputado, não teve direito à defesa que merecia.

Poucos antes das 19h, Dirceu saiu de casa e partiu para a Câmara. As esperanças de adiar a sessão eram poucas, mas a disposição para brigar até o fim era enorme. O desafio, àquela altura, era conseguir a maior votação favorável possível. E não abandonar o discurso da condenação sumária e da execração política.