José Alencar vai assinar a MP dos transgênicos

Nova York e Brasília (AG) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado, ontem, aos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por causa das recentes manifestações contra a liberação da soja transgênica e a invasão do prédio do Incra em Pernambuco. Segundo Lula, a liberação para o plantio de transgênicos já está decidida e o presidente em exercício, José Alencar, vai assinar a medida provisória.

No início da noite de ontem, o senador Paulo Paim (PT-RS), ao sair do Palácio do Planalto, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone com o presidente em exercício, José Alencar, e pediu para que ele assine a medida provisória liberando o plantio de soja transgência no País. Segundo Paim, Alencar disse que assinaria a MP ainda ontem ou no máximo hoje. Bem-humorado, Alencar avisou que a responsabilidade pela liberação dos transgênicos será de todos. O senador revelou, ainda, que a Medida Provisória vai valer para todo o País, e não apenas para o Rio Grande do Sul.

Alencar, porém, decidiu protelar um pouco mais a assinatura. Após reunião com políticos e representantes de grupos que lutam contra a liberação dos transgênicos, ele marcou novo encontro com ministros para discutir o assunto. O presidente em exercício escolheu três parlamentares que estavam na reunião para formar uma comissão que vai participar das discussões técnicas. São eles os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ) e Nelson Pellegrino (PT-BA) e o deputado estadual do Rio Grande do Sul Frei Sergio Gorem (PT).

A criação da comissão incomodou o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, que chegou a dizer que isso enfraqueceria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que ele já decidiu pela liberação.

Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, defendeu a exigência de estudo de impacto ambiental para a liberação do plantio da soja transgênica no Rio Grande do Sul.

“O estudo de impacto ambiental e também sobre a saúde humana são inegociáveis. Antes da liberação dos transgênicos é preciso haver esses procedimentos”, afirmou o ministro.

Pela manhã, antes de Lula e Rosseto se manifestarem, José Alencar já tinha demonstrado falta de convicção em relação à MP, embora tivesse dito que iria assiná-la. Alencar fez um verdadeiro desabafo sobre a responsabilidade da assinatura. E contou que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não sai da sua cabeça.

“Um pobre coitado presidente em exercício lá de Minas Gerais é que tem que assinar essa MP”, lamentou.

Segundo ele, o País está sendo atropelado pelos acontecimentos gerados pelo plantio da soja transgênica, afirmando que no passado houve o plantio, apesar da proibição da lei, e que a questão está se repetindo agora. “Isso confronta com a legislação brasileira e o pobre coitado tem que assinar essa MP, mas realmente tenho que assinar porque fomos atropelados pelo contrabando de sementes de soja fora da lei”, afirmou.

Requião considera MP “preocupante”

O governador Roberto Requião (PMDB) disse ontem que o Paraná tem autonomia para proibir a produção de soja transgênica e que os deputados estaduais contrários à medida estão “votando contra os interesses do Estado e do País”. Para o governador, faltam informações para os deputados que estão se posicionando contra o projeto que está tramitando na Assembléia Legislativa. A proposta do deputado estadual Elton Welter (PT) proíbe a produção, distribuição e transporte de produtos transgênicos no Paraná.

Requião acha que a decisão do governo federal de liberar o plantio por meio de uma medida provisória é preocupante. Segundo o governador, tornar obrigatória a identificação da soja modificada pode não ser a melhor solução. “A soja transgênica é dominante, contamina as demais plantações e os portos dificilmente poderiam separar uma da outra porque ambas entram pela mesma moega e vão direto para um silo onde são misturadas”, comentou.

Requião disse que a liberação dos transgênicos no País retiraria do Paraná o diferencial de qualidade de sua produção. O governador informou que está para fechar um negócio com a China garantindo a venda de soja paranaense durante dez anos por preços atrativos. “Se passamos a produzir transgênicos, não vendo mais nada”, afirmou o governador. Requião disse que as conversas com o governo chinês estão sendo feitas pela direção do Porto de Paranaguá e que logo no início do mês de outubro, representantes do Paraná irão à China para continuar as negociações.

Ele disse que sua posição contra a liberação da soja transgênica é comercial e não tem caráter ideológico ou doutrinário. Requião disse que os Estados Unidos estão tentando impor a produção dos transgênicos no Brasil para garantir o seu mercado e porque não tem condições de competir com a produção nacional, que tem aceitação no mundo todo, ao contrário do produto americano. Ele lembrou que não é a primeira interferência americana no cultivo da soja brasileiria. Ele citou que há alguns anos “interesses americanos” tentaram pagar para que agricultores brasileiros parassem de plantar soja.

Requião citou que os países latino-americanos produzem 90 milhões de toneladas de soja pura ao ano, enquanto a produção americana é de 70 milhões. “A produtividade da nossa soja natural é entre 35% e 40% acima da americana. Eles querem nos impor a soja transgênica e assim nós teríamos as mesmas dificuldades que eles têm para entrar nos mercados internacionais. E nós perderíamos o nosso diferencial de qualidade”, comentou.

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