Jornalista confessa erro que derrubou Ibsen Pinheiro

São Paulo, 13 (AE) – A derrocada política do deputado federal Ibsen Pinheiro, cujo nome chegou a ser cogitado para a corrida presidencial de 1994, pelo PMDB, pode ser debitada em parte a um erro jornalístico. Esse é o tema da reportagem de capa da revista IstoÉ que começou a circular nesta sexta-feira (13). A matéria afirma que a revista Veja, ao publicar uma informação errônea sobre a movimentação de dinheiro na conta bancária do deputado, em 1993, deu munição para seus inimigos políticos e desembocou na cassação de seu mandato. O pior, segundo IstoÉ, é que os editores souberam do erro antes do final da impressão da revista e o mantiveram.

O texto tem como peça de resistência uma carta que o autor da reportagem, jornalista Luís Costa Pinto, enviou a Ibsen há três meses, na qual confessa o erro, numa tentativa de “reparar as injustiças que ajudei a perpetrar”. Costa Pinto, que trabalha como consultor e presta serviços ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), contou que Veja soube ainda na madrugada que a denúncia da movimentação de US$ 1 milhão de dólares na conta do deputado, beneficiado por um esquema de corrupção, não tinha pé na realidade. Um checador da própria Veja refizera as contas, verificando que o movimento era de US$ 1 mil.

Na ocasião, porém, com 1 milhão e 200 mil exemplares rodados, segundo Costa Pinto, os editores não quiseram voltar atrás. Pediram que buscasse a declaração de alguém da CPI do Orçamento para calçar a informação. O próprio presidente da comissão, o então deputado pefelista Benito Gama, inimigo político de Ibsen, aceitou o papel e garantiu, por telefone: “É US$ 1 milhão e Ibsen terá de responder por isso”.

Um dos detalhes mais curiosos da polêmica, que ocorre em meio a um debate mais amplo sobre a necessidade de fiscalização da imprensa, é que a principal fonte de Costa Pinto foi um personagem conhecido do PT – o assessor parlamentar Waldomiro Diniz. Na CPI do Orçamento ele era o braço direito dos deputados José Dirceu, hoje ministro-chefe da Casa Civil, e Aloizio Mercadante, atualmente no Senado. Foi Waldomiro quem ligou para Costa Pinto na noite do fechamento da revista, dizendo que tinha as provas que faltavam para incriminar Ibsen: sete boletos de depósitos bancários.

Delírio

Hoje (13), Benito Gama, que concorre à prefeitura de Salvador pelo PTB, negou a conversa com o repórter de Veja. “Isso é uma mentira, um delírio, um sonho. Nunca tratei de valores. Esse sujeito é irresponsável. Vou processá-lo.” A direção da Veja não quis fazer comentários. O então editor-executivo da revista, Paulo Moreira Leite, a quem Costa Pinto se reportava, chamou de fantasiosa a versão de seu subordinado. “Lula Costa Pinto fala de um crime sem cadáver”, disse ao GRUPO ESTADO. “Diz que tentei pressioná-lo a publicar uma notícia falsa porque a capa da revista não poderia ser mudada naquele momento por motivos econômicos. Só que a capa foi mudada. Não só a capa, mas o texto interno, as ilustrações e os quadros explicativos. Se tivesse se dado ao menos ao trabalho de conferir a capa da Veja daquela semana Lula Costa Pinto veria que sua tese é puro jornalismo do absurdo”.

Moreira Leite, hoje diretor de redação do Diário de S. Paulo, qualificou de mentirosa a declaração de que teria insistido para o repórter calçar a matéria: “Graças a nossos checadores, corrigimos o que havia de errado na reportagem enviada de Brasília. Infelizmente dessa vez ele não contou com auxílio de checadores antes de publicar essa nova versão dos fatos.”

Reparação

Em Porto Alegre, o ex-deputado Ibsen Pinheiro disse que a divulgação do erro que levou à cassação em 1994 é uma reparação parcial dos prejuízos que sofreu: “Pelo menos ela ocorreu em vida.” Com 69 anos, na disputa por uma vaga na Câmara Municipal, lembrou que investigações da Receita Federal e do Ministério Público Estadual, para onde voltou depois de perder o mandato, já haviam comprovado sua inocência. Finalmente anunciou que não pretende processar Veja. “A reparação possível eu já obtive.”

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