As comemorações do dia 1.º de Maio, o Dia do Trabalho, deram algumas indicações de como as massas trabalhadoras estão vendo o governo Lula. Ele não compareceu nem à manifestação da CUT nem à da Força Sindical, preferindo estar presente a uma missa comemorativa. Foi mais acertado, pois encontraria suas antigas bases bastante divididas. As posições das centrais sindicais foram de condescendência e esperança. Nenhuma de apoio aberto e explícito à política do atual governo.
Enquanto uns compraziam-se de haver conquistado um salário mínimo de R$ 300,00, bem mais do que havia proposto o governo e muito menos do que necessita uma família de trabalhadores, outros criticavam esse piso. E atacavam as medidas provisórias do Imposto de Renda para os prestadores de serviços e as pretendidas mudanças nas indenizações por acidente de trabalho. Houve quem lembrasse que o próprio Lula foi vítima de acidente de trabalho, perdendo um dedo, e que por isto deveria ser mais sensível às necessidades dos trabalhadores.
Nos dois grandes grupos de trabalhadores, divididos nas suas maiores centrais sindicais, houve de comum a desaprovação da política econômica, que foi também objeto de ataques dos petistas mais ortodoxos e daqueles que acreditaram que o governo atual seria de esquerda. E de esquerda o esperavam. O uso dos juros em constantes altas, para segurar a inflação, está sendo desacreditado dia a dia e a essa política, praticada pelo ministro Antônio Palocci, que é ?unha e carne? com Lula, no dizer do presidente, seria a responsável pela lentidão do crescimento econômico e a pequenez dos números na criação de empregos.
A defesa do governo e dos que ainda o apóiam parece bastante frágil. Pedem a reeleição para que haja tempo para completar as reformas que, na verdade, ainda não foram percebidas pela população. E não encontram desculpas plausíveis para o fato de esta administração ter ultrapassado sua primeira metade prometendo e preparar a segunda, para fazer a campanha da reeleição. Um mandato que parece perdido e, como disse um líder sindical, ameaça termos de esperar mais cinco séculos para que outro líder de trabalhadores chegue à Presidência da República.
O governo e suas bases políticas usam e abusam do expediente de que é preciso comparar os resultados desta administração com os da anterior, o que no fundo significa que esta é menos pior, e não que é melhor. Foi um Dia do Trabalho mal aproveitado, pois o governo, suas forças de apoio e seus opositores perderam a oportunidade de realizar um debate sério sobre a situação do País e, principalmente, seus progressos econômicos e sociais. Ficaram no jogo de empurra, procurando adivinhar quem é mais e quem é menos culpado.
E ao povo restou continuar esperando as mudanças que não vieram e não existem prognósticos de que chegarão a tempo de reduzir as angústias da sociedade.