Uma pesquisa realizada pelo professor universitário Francisco José Dutra Souto, hepatologista da Universidade Federal do Mato Grosso, aponta que 7% dos jogadores pesquisados, estavam infectados. As estatísticas da doença no país não ultrapassam 2%. “Os dados apontam um número bastante alto”, diz a coordenadora do programa de hepatite do Ministério da Saúde, Gerusa Figueiredo.
O hepatologista acredita que esse seja um problema de saúde pública. O pesquisador diz que muitos médicos ainda desconhecem essa associação e que os próprios jogadores têm preconceito em relação ao assunto. Para o ex-jogador Péricles Carvalho, que jogou em times do interior de Minas, Goiás e Paraná, o uso de estimulantes era muito comum naquela época. “Eu vi várias vezes. Os jogadores tomavam injeção e compartilhavam a mesma seringa”, confirma o ex-atleta. Péricles diz, ainda, que embora hoje em dia a estrutura seja diferente, a prática de injeções estimulantes pelos jogadores de futebol é uma realidade. “Se os top de linha usam, imagina os do interior”, diz ele.
O vice-presidente da Federação Metropolitana de Futebol do Distrito Federal, Paulo César Araújo, também confirma a prática daqueles anos. Mas “Paulinho”, como é conhecido, diz não acreditar que ainda hoje os jogadores façam uso dessas injeções. “Hoje o atleta é muito monitorado e a prática para desenvolvimento é diferente”, diz.
A coordenadora do programa de hepatite do ministério da saúde, não descarta a possibilidade de trabalhar especificamente com o público de jogadores de futebol. A preocupação existe. Em viagem recente a Natal (RN), Gerusa recebeu relatos de casos até de jogadores eventuais de futebol fazendo uso de injeções estimulantes. A coordenadora acredita na prevenção e, para isso, o ministério da saúde vai distribuir planfletos informativos alertando toda a população.
O uso de um alicate de unha, fazer uma tatuagem ou um piercing, se não for de forma adequada, com material esterelizado e descartável, pode transmitir a doença. “A hepatite C é transmitida pelo sangue, qualquer contato deve ser feito com o máximo cuidado”, alerta a coordenadora do programa de hepatite. Gerusa diz ainda que entre 70% e 80% das pessoas com hepatite C não apresentam sintomas. Segundo a coordenadora, os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que no Brasil existem três milhões de pessoas infectadas.
O pesquisador Francisco José, aconselha os ex-jogadores a procurarem médicos e fazerem exames para detectar ou não possíveis doenças transmissíveis em decorrência do uso compartilhado das seringas. O estudo, realizdo no Mato Grosso, não pode apontar os dados para todo o país, mas Franciso estima que os índices nacionais possam variar entre 3% e 10% de portadores da doença entre ex-jogadores de futebol, que foram infectados por uso compartilhado de seringas.
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