O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) usou hoje parte do tempo dedicado à defesa para atacar os meios de comunicação, os quais acusou de manipular a opinião pública. "Muitas vezes, o jornal levanta uma tese, sustenta essa tese e depois transforma essa tese como se fosse opinião pública e pede no seu editorial o cumprimento daquela tese que é dele", disse.

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A tática de atacar a opinião pública e os meios de comunicação foi usada por todos os parlamentares que responderam a processo de perda de mandato por envolvimento com o "mensalão" depois que o deputado Roberto Brant (PFL-MG) a adotou e saiu-se vitorioso. Como Brant – o qual citou no discurso -, João Paulo procurou fazer com que os deputados se sentissem feridos pelas críticas feitas pelos veículos de comunicação às seguidas absolvições dos envolvidos com o "mensalão".

Para ele, a imprensa pode muito, mas não pode tudo. "A imprensa precisa entender que a opinião pública não é a opinião dos jornais. Se descuidarmos e levarmos isso até as últimas conseqüências, daqui a uns dias, o povo não elege mais. Quem vai eleger é a opinião pública, os jornais. Mas e o povo?" perguntou

João Paulo comparou os meios de comunicação da época do Brasil-Colônia, do Império, da Velha República e os de agora. Disse que, antigamente, havia os jornais pró-Brasil e pró-Portugal, os a favor e os contrários à monarquia, os que faziam campanha para um candidato a presidente e os que faziam para outro. Hoje, segundo o deputado do PT de São Paulo, isso não acontece.

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"Hoje, o método é grave porque se faz opção política pelo editorial e pelas matérias, mas não se assume. Faz-se opção por determinada política e não se mostra. É ruim isso. Diferentemente, insisto, de outros países, em que a imprensa atua claramente, o editorial é de determinada linha, os temas são enfrentados em diversas linhas", afirmou.

João Paulo citou o escritor uruguaio Eduardo Galeano para falar daquilo que, segundo ele, é o poder exagerado dos meios de comunicação: "Na periferia de Montevidéu, um advogado encontrou uma senhora presa por homicídio, chamada Alma de Agosto. Era cega, de paz. O advogado descobriu que ela descrevia todos os detalhes dos crimes com a frieza e a crueldade de um assassino contra suas vítimas."

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"Como uma senhora cega, de idade, bondosa, tinha esse instinto de crueldade, dizendo que matou tantas pessoas assim? Depois, foi ver que ela conseguiu inventar aquelas histórias a partir da tortura e da pressão psicológica, o que acabou por condená-la. Para surpresa do advogado, quando foi ao bairro onde ela morava, perguntou aos vizinhos quem era d. Alma. Eles responderam que ela era culpada. O advogado perguntou por que, e eles responderam que era o que os jornais diziam. O advogado retrucou dizendo que os jornais mentem. Os vizinhos falaram que a TV e o rádio também diziam o mesmo."

Segundo João Paulo, essa história equivale a muitos momentos por que os parlamentares passam. "Por mais que se tente repetir, reproduzir e demonstrar, na realidade, ficamos absolutamente impotentes diante do grande mecanismo da imprensa e das informações."