O governo conservador atualmente instalado no Japão afastou-se nesta sexta-feira (08) de dois pilares do pacifismo nipônico no pós-guerra com a aprovação pela câmara alta do Parlamento de duas medidas polêmicas: a transformação da Agência de Defesa do Japão em um ministério pleno e a exigência para que as escolas encorajem o patriotismo entre os alunos. As duas medidas – aprovadas ontem pela câmara baixa e hoje pela câmara alta do Parlamento – são elementos importantes de uma iniciativa do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, para ampliar a relevância internacional das forças do país, alimentar o orgulho nacional e distanciar os japoneses da culpa pelas atrocidades cometidas pelas forças imperiais até 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial.

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As votações representam importantes vitórias para o governo liderado por Abe, que tem visto sua popularidade diminuir consideravelmente desde sua posse, em setembro, por causa da percepção de que ele dá pouca relevância aos assuntos internos do Japão. A reforma educacional é motivo de controvérsias. Para os críticos, ela não passa de uma reminiscência do sistema anterior a 1945, no qual os alunos eram encorajados a se sacrificar pelo imperador e pela nação.

Além disso, descobriu-se esta semana que o governo infiltrou funcionários que posavam como civis para observar reuniões comunitárias sobre a medida. Esse escândalo e outros problemas recentes provocaram uma onda de moções de censura contra Abe e alguns integrantes de seu gabinete de governo, mas todas foram rejeitadas pelo Parlamento, onde o partido governista possui ampla maioria. Já a transformação da Agência de Defesa em ministério pleno provocou pouca polêmica, especialmente pela preocupação dos japoneses com o programa nuclear bélico da Coréia do Norte.

A mudança, que passará a vigorar no início de 2007, dá aos generais japoneses mais prestígio e poder na definição do orçamento. A categoria manteve-se discreta ao longo das últimas décadas. A reforma educacional – primeira mudança nas diretrizes de educação do país desde 1947 – incentiva as escolas a "cultivar uma atitude de respeito à tradição e à cultura, de amor à nação e à pátria". A medida reflete a preocupação de Abe e de seu ministro da Educação, Bunmei Ibuki, de que a prosperidade econômica erodiu os valores morais e o espírito cooperativo entre os japoneses depois da Segunda Guerra Mundial.

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Os críticos temem que a reforma leve as escolas a dar nota aos alunos por seu fervor patriótico, o que possivelmente seria o prelúdio da transformação do Japão novamente numa nação agressiva. "O governo coloca em risco o futuro das crianças japonesas e transforma o Japão num país que guerreia no exterior", disse Ikuko Ishii, um deputado do Partido Comunista.

Já o deputado governista Hiroo Nakashima considerou que a reforma permitirá às crianças "adquirir uma boa compreensão de sua herança e tornarem-se japoneses inteligentes e dignos". A reforma coincide com as ações de alguns governos locais e regionais que passaram a repreender professores e alunos que se recusam a se comportar respeitosamente diante da bandeira ou a cantar o hino ao imperador durante eventos escolares.

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