O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados fez sua parte no drama gerado pelo processo de cassação do mandato do deputado José Janene (PP-PR), um dos principais acusados de receber dinheiro do valerioduto (R$ 4,1 milhões), segundo investigações comprovadas à saciedade, repassados em malas e sacolas de plástico a seu ex-chefe de gabinete João Cláudio Genu, pela secretária de Marcos Valério de Souza.
O dinheiro, apurou a CPMI dos Correios, foi repassado a inúmeros deputados do PP às vésperas de votações de projetos importantes para o governo Lula, para os quais a logística política do Palácio do Planalto julgou imprescindível uma maioria folgada, apesar da existência da chamada base de sustentação do governo no Congresso Nacional, de maneira mais ampla na própria Câmara.
Pois, mais além do acordo partidário amarrado pelo então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi preciso pagar para facilitar a vida do presidente Lula na Câmara. A CPMI aprofundou as denúncias feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e descobriu que o PP e o PL ?cobravam? pedágio para aprovar certos projetos encaminhados ao exame dos legisladores.
Jefferson foi o primeiro a utilizar o termo ?mensalão? para definir o adjutório dado pelo lulo-petismo (R$ 30 mil) aos componentes da base política. Embora a periodicidade do pagamento não fosse mensal, a expressão rapidamente tornou-se uma das mais corriqueiras no cotidiano da população que logo a associou de forma pejorativa, como não poderia deixar de ser, ao toma-lá-dá-cá, um dos aspectos mais condenáveis da vida pública, infelizmente ainda realidade no País.
Na verdade, o Conselho de Ética fez o que havia prometido e a proposta de cassação do mandato de José Janene foi aprovada por 12 votos a um. Resta agora o pronunciamento do plenário da casa, após o intervalo regimental propiciado pelos derradeiros recursos à disposição do deputado. O processo deverá chegar ao plenário em meados de julho para ser votado antes do recesso branco da campanha. Se não for assim, é provável que Janene se livre da cassação pela absoluta inatividade do Congresso.
Deve-se lembrar também o efeito cascata da absolvição dos demais mensaleiros citados no relatório final da CPMI dos Correios, carta que o deputado conserva na manga, apesar da premonição de Jefferson sobre as cabeças que deveriam rolar além da sua: José Dirceu, Pedro Corrêa e Janene. É só aguardar.
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