Brasília (AE) – Poucos minutos de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão bastaram para que o ex-tesoureiro nacional do PL Jacinto Lamas fosse apontado como protagonista de um dos testemunhos mais desequilibrados desde que os trabalhos da comissão começaram. Lamas confirmou ter buscado "encomendas", a pedido do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, na agência de publicidade SMP&B, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em Belo Horizonte e Brasília, e também no Banco Rural. Ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), se havia sido responsável por saques que chegariam próximo a R$ 10 milhões ou a R$ 1,3 milhão, uma vez que existem duas listas, Lamas respondeu aos risos: "Acho mais plausível a segunda versão. No volume de pacotes que me entregaram, não caberia um volume desses (R$ 10 milhões). Até fisicamente eu não daria conta."
Lamas voltou a irritar a CPI ao afirmar que apenas cumpria ordens de Costa Neto, que renunciou ao mandato de deputado. "Fazia tudo, religiosamente, disciplinadamente, como militar", disse, novamente, rindo.
O ex-tesoureiro, que prestou depoimento de posse de habeas-corpus, afirmou, primeiro, desconhecer o que continha nos pacotes que buscou nas agências de Valério. Ao falar das vezes em que esteve na agência do Rural, em Brasília – disse acreditar que foram oito -, protagonizou um dos momentos mais inusitados. "Eram pacotes praticamente fechados. A gente não tinha tempo (de verificar o que havia)." Diante da insistência de Abi-Ackel, de que ele, ao ir ao banco, sabia que se tratava de dinheiro, Lamas afirmou: "No banco, supostamente (era dinheiro). Não poderia ser carne. Não poderia ser pão."
Lamas disse que tinha "múltiplas funções" no partido. Mas afirmou diversas vezes que só tomou conhecimento do que buscou nas agências de Valério nas recentes entrevistas que Costa Neto deu. "Não fui buscar recursos para o PL. Fui buscar recursos que o Valdemar diz que havia acertado com o sr. Delúbio (Soares, ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT)."
Ele afirmou também que "nunca" ouviu que os recursos seriam destinados ao PL. "Nunca atrasamos pagamento (de fornecedores) aqui, em Brasília. Em São Paulo, onde se produzia a maior parte de material (da campanha), eu não sei." Depois, afirmou que, segundo Costa Neto, o dinheiro era referente à campanha.
O ex-tesoureiro declarou que "nunca teve nenhum contato" com Delúbio. "Apenas sabia que ele ligava para o Valdemar, que me dizia que alguém me chamaria para avisar da encomenda." Ele confirmou que Costa Neto usou recursos do PL para mobiliar sua casa, conforme disse a ex-mulher dele Maria Cristina Mendes Caldeira.
Depois dos ataques de riso em série, Lamas desculpou-se. "Quero penitenciar-me. Houve momentos de descontração porque me deixei contagiar. Realmente, não há motivo para riso." Mas ainda provocou risos ao admitir com um simples "pois é" que tem um patrimônio de R$ 1 milhão. Ao falar que tem recebido "ameaças pelo telefone", Lamas chorou.