Itamaraty muda últimos embaixadores nomeados por FHC

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai desalojar de cargos de
primeira linha no exterior os últimos diplomatas nomeados no final do governo
Fernando Henrique Cardoso. O novo rodízio, no entanto, está sendo recebido com
perplexidade por antigos embaixadores, pelos critérios que nortearam as
mudanças. Para o Consulado Geral de Nova York, um cargo meramente burocrático, a
chancelaria brasileira vai se dar ao luxo de enviar um dos mais hábeis e
experientes negociadores comerciais do País, o embaixador José Alfredo Graça
Lima, que deixará a representação do Brasil junto à União Européia, em
Bruxelas.

O embaixador Sérgio Telles, que está na Tunísia, não será
removido, mas acaba de ser enviado para uma missão confidencial em Bagdá, onde
vai investigar o paradeiro do engenheiro João José Vasconcellos Jr., funcionário
da Construtora Odebrecht seqüestrado há mais de dois meses por grupos armados
rebeldes. A crítica, no caso, é que Telles também estará numa missão que não se
ajusta a seu perfil de diplomata.

Segundo experientes diplomatas, Telles,
de temperamento ameno e artista plástico reconhecido, não é um diplomata para
atuar em frentes de guerra. Eles também criticam o fato de que esse tipo de
negociação se ajusta mais a uma ação de serviço secreto e menos de atribuição
diplomática. "Ele não vai lá negociar, vai para dar a impressão de que o governo
está fazendo alguma coisa", disse um experiente diplomata.

Para o lugar
de Graça Lima na União Européia irá Maria Celina de Azevedo Rodrigues, atual
embaixadora na Colômbia. Quem vai substituir Maria Celina é o atual cônsul-geral
do Brasil em Nova York, Júlio César Gomes dos Santos, que foi assessor de
FHC.

O embaixador Sérgio Amaral, ex-porta-voz e ministro do
Desenvolvimento do governo FHC, deixará a glamourosa embaixada em Paris e deverá
pedir aposentaria mesmo sem ter completado 65 anos de idade. Ele tem dito a
amigos que vai morar em São Paulo. Para o seu lugar irá a primeira mulher a
assumir uma subsecretaria na história do Itamaraty, a embaixadora Vera Pedrosa,
cujo posto estaria reservado para o embaixador Ruy Pereira, assessor do
todo-poderoso secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro
Guimarães.

Embora tenha dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no
início do ano, que pretendia retornar ao Brasil e a Juiz de Fora, o
ex-presidente Itamar Franco não tem demonstrado empenho nem pressa em encerrar
seu ciclo na embaixada do Brasil na Itália.

A embaixada em Roma, a rigor,
está sendo reservada para o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa,
secretário-geral do Itamaraty na era FHC, caso ele não consiga vencer a disputa
para a direção-geral da OMC, em maio. Para o lugar de Seixas Corrêa será
designado o atual ocupante da SGET, embaixador Clodoaldo Hugueney, um dos raros
diplomatas a ocupar o mesmo cargo desde o final do governo
FHC.

Subsecretário de Assuntos Políticos (SGAP) do Itamaraty no final do
governo FHC, o experiente Ivan Canabrava deixará a embaixada no Japão para
assumir a embaixada do Brasil no México. Para seu lugar será transferido o
embaixador André Amado, que ocupava a representação do Brasil no Peru e, antes
disso, a direção do Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas.

Para
o Peru irá o embaixador Luiz Augusto de Araújo Castro, que também havia
conduzido a SGAP num período do governo FHC e que hoje é embaixador no México.
Outro experiente embaixador, Adhemar Bahadian, que hoje comanda o consulado do
Brasil em Buenos Aires e co-preside a Área de Livre Comércio das Américas
(Alca), será removido para a embaixada em Berlim. O embaixador José Arthur Denot
Medeiros, com mais de dez anos no exterior, deixará a Alemanha e terá
obrigatoriamente de retornar a Brasília. Em princípio, para a
Subsecretaria-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos (SGET), a área que
comanda as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

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