Itamar afirma que Dirceu é envolvido em julgamento político

São Paulo (AE) – O ex-presidente e ex-embaixador do Brasil na Itália Itamar Franco afirmou hoje que o deputado José Dirceu (PT-SP) "está sendo envolvido num julgamento de ordem política" e que não concorda com a versão do deputado Júlio Delgado (PT-SP), que apresentou ontem (18) o relatório que recomendou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara a cassação dele, de que o ex-chefe da Casa Civil foi responsável por um esquema de compra de voto, em troca de apoio político ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Não aceitei, em princípio, as considerações do relator" afirmou. "Argumentar que o ex-ministro José Dirceu, sozinho, fez tudo aquilo e que ninguém do palácio mais sabia? Evidentemente, eu não posso aceitar isso", complementou, sem citar nomes de outros integrantes do governo.

Itamar estendeu as críticas aos demais parlamentares do Congresso, que, segundo ele, centralizaram a culpa por casos de corrupção somente no deputado do PT de São Paulo e não têm a "ousadia" de ampliar as investigações para o restante da administração federal.

"Acusar o ministro José Dirceu, isoladamente, é uma falsidade. Por que não têm coragem de chegar ao presidente da República? Eles não chegam ao presidente da República pelas razões que nós não sabemos", disse, ressaltando que não deseja que as denúncias atinjam Lula.

O ex-presidente e ex-embaixador do Brasil na Itália destacou que conhece Dirceu há muitos anos e lembrou que esteve ao lado dele em momentos importantes da história política recente do País, até mesmo durante a campanha eleitoral de 2002, que levou Lula à Presidência.

"Será que o ministro José Dirceu comandava todo o processo palaciano? Será que só ele, dentro do Palácio do Planalto, é que poderia ter feito isso, isoladamente, nesse contexto trágico que o País está vivendo? Será que foi só ele?", indagou.

"Se nós fôssemos admitir que ele representou tudo aquilo que o relator falou, então, chegaríamos à Presidência da República. Como eu entendo que o ministro Dirceu não é aquilo que o relator falou, é claro que eu também vou retirar as considerações em relação ao presidente Lula", insistiu.

Meirelles

Apesar de evitar a citação de membros do Poder Executivo como possíveis responsáveis por atos de corrupção, Itamar criticou o fato de o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, permanecer no cargo, mesmo depois de ser acusado de irregularidades em remessa de dinheiro ao exterior antes de assumir a instituição financeira.

"Antes de acontecer isso tudo (escândalo do ‘mensalão’), o presidente do Banco Central era acusado, foi levado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e foi mantido no cargo. Isso é muito triste. Por que esse homem não foi primeiro afastado, sofreu o seu julgamento e, se fosse considerado inocente, voltava para o cargo?", indagou, para depois destacar que, em países da Europa, por exemplo, a permanência de Meirelles na função poderia não ser aceita.

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