Depois de 31 anos de dedicação, o engenheiro Carlos Armando Sperotto prepara sua despedida da maior hidrelétrica do mundo. Mas, antes de se aposentar, ele quer comemorar o feito de ser um dos trabalhadores que começaram e terminaram a construção de Itaipu Binacional – considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno pela Sociedade Americana de Engenharia, ao lado do Eurotúnel (no Canal da Mancha), Empire State Building e a ponte Golden Gate (EUA).

continua após a publicidade

Itaipu era apenas um amontoado de terra, caminhões e escavadeiras quando Sperotto chegou a Foz do Iguaçu, aos 22 anos vindo do Rio de Janeiro. Inaugurou a primeira turbina da hidrelétrica em 5 de maio de 1984 e, neste ano, conclui a última etapa de construção da hidrelétrica, que completou na quarta-feira 32 anos de idade. "Vim para ficar dois anos, acabei trazendo minha mulher, tive dois filhos e já vou me aposentar."

Esgotamento

A penúltima turbina entra em teste de confiabilidade esta semana e deve começar a operar no sistema interligado brasileiro em 45 dias. A última máquina está em fase de ajuste técnico e também vai iniciar operação até o fim do ano. Com isso, Itaipu fecha o ciclo de expansão, soma 20 turbinas e eleva sua potência para 14 mil MW. "As duas turbinas nos darão mais tranqüilidade nas manutenções periódicas da hidrelétrica", afirma o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek.

continua após a publicidade

A conclusão da usina também marca o esgotamento dos grandes potenciais hídricos das regiões Sul e Sudeste do País. A partir de agora, hidrelétricas de grande porte só no Norte e Centro-Oeste, áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental. "Em Itaipu não há mais espaço para elevar a capacidade. Agora entramos na fase de modernização dos equipamentos", diz Sperotto.

O engenheiro já está acostumado com a grandeza da usina. Tudo é gigante, desde as turbinas, condutos até o sistema de transmissão. O tamanho é traduzido em números. Só a barragem tem 196 metros de altura – o equivalente a um prédio de 65 andares – e 7.790 metros de comprimento. Já o vertedouro tem 390 metros de largura e 483 metros de comprimento.

continua após a publicidade

Impacto

Na construção, foram usados 12,57 milhões de metros cúbicos de concreto – o suficiente para fazer 210 estádios do Maracanã (RJ). Já o ferro e aço usados dariam para edificar 380 vezes a Torre Eiffel, em Paris. "Para mim, tudo é normal. Só tenho noção do tamanho quando visito outras hidrelétricas. Os equipamentos parecem chaveirinhos", brinca o engenheiro.

Mas para quem visita a usina pela primeira vez o impacto é inevitável. Se de longe tudo parece grande, dentro da hidrelétrica a grandiosidade é de deixar qualquer pessoa boquiaberta. Os funcionários, por exemplo, usam carrinhos elétricos (iguais aos usados nos estádios de futebol) e bicicletas para se locomoverem.

Os locais também são numerados e marcados para que as pessoas não se percam dentro das galerias. Ao lado de cada número e da frase "Você está aqui", há um telefone para que os trabalhadores usem em caso de ficarem perdidos na imensidão de Itaipu. Isso não é incomum no caso de funcionários novos, diz Sperotto. Cada ponto da hidrelétrica tem uma vista peculiar. Por meio de uma estrada que atravessa a usina e sobe até o topo da barragem é possível ter uma noção do que é Itaipu. De cima, vê-se todo o lago, as linhas de transmissão – tanto do lado paraguaio como brasileiro – e os condutos que levam água até as turbinas.

Big brother

O esquema de segurança também é rigoroso. Tudo é monitorado por câmeras e para entrar na usina só com autorização prévia. Tanta preocupação não é por acaso: Itaipu é responsável por cerca de 23% de toda energia consumida no Brasil e 95%, no Paraguai. Segundo cálculos, de 5 maio de 1984 até julho de 2005, a hidrelétrica produziu 1,3 bilhão de MWhora – energia suficiente para abastecer o planeta durante 36 dias.

O primeiro passo para a construção de Itaipu ocorreu em 22 de junho de 1966, com a assinatura da Ata de Iguaçu entre Brasil e Paraguai. Em seguida veio o Tratado de Itaipu, em 1973, que estabeleceu o aproveitamento dos recursos hídricos pertencentes aos dois países, no Rio Paraná. Finalmente, em 1974, saiu a Constituição de Itaipu Binacional e em 1975 as obras foram iniciadas. A primeira turbina levaria oito anos para entrar em operação.

De acordo com o tratado, a energia produzida pela usina é dividida igualmente entre Brasil e Paraguai. Mas como o consumo é menor, o país vizinho usa apenas 5% da energia gerada. A restante é vendida ao Brasil. Essa cessão de eletricidade rende ao Paraguai uma receita de mais de US$ 60 milhões, afirma Samek. Além disso, desde 1985, a usina já pagou US$ 2,8 bilhões de royalties tanto para o Paraguai como para o Brasil.

O Paraguai, porém, tem reclamado dos valores recebidos. A explicação, segundo Samek, está na valorização do real, já que a energia é vendida em dólar. Desde janeiro de 2003, o custo da eletricidade vendida pela hidrelétrica caiu 30% no Brasil. Isso reduz o valor repassado ao Paraguai. Em 2005, a receita da usina foi de US$ 2,5 bilhões. Segundo Samek, US$ 1,9 bilhão vai para o pagamento de dívida e juros. Os financiamentos para construção da usina foram feitos em 50 anos e carência de 10 anos.